Uma investigação divulgada neste domingo (16) pelo jornal norte-americano The New York Times aponta que o Departamento de Segurança Interna dos Estados Unidos (DHS, na sigla em inglês) tem deslocado milhares de agentes de suas funções originais para reforçar operações de prisão e deportação de imigrantes, atendendo à pressão direta do presidente Donald Trump.
A mudança, segundo documentos internos e relatos de mais de 65 autoridades ouvidas pelo jornal, tem comprometido missões essenciais da agência criada após os ataques de 11 de setembro.
De acordo com a publicação, equipes responsáveis por investigar crimes sexuais contra crianças, redes de tráfico humano, terrorismo e operações financeiras ilegais foram convocadas por semanas ou meses para atuar em ações migratórias. Em alguns casos, a interrupção de investigações resultou em perda de pistas, atrasos na identificação de vítimas e enfraquecimento de operações de inteligência.
Entre os impactos identificados, agentes relataram queda de 33% nas horas dedicadas a casos de exploração infantil entre fevereiro e abril, com unidades inteiras temporariamente deslocadas para prisões de imigrantes.
As mudanças atingiram ainda áreas estruturais do DHS. A Guarda Costeira cedeu aeronaves usadas em missões de resgate e combate ao narcotráfico para transportar imigrantes entre centros de detenção.
A academia federal de treinamento do DHS suspendeu cursos de diversas agências para acomodar a formação de novos agentes de deportação, atrasando a entrada de recrutas do Serviço Secreto, do Exército e de outras instituições.
Segundo o NYT, o foco ampliado em deportações tem sido impulsionado por reuniões diárias conduzidas por Stephen Miller, vice-chefe de gabinete da Casa Branca e principal articulador da política migratória. Segundo funcionários ouvidos pelo jornal, líderes do ICE, braço do DHS responsável por prisões, têm sido pressionados a aumentar números de detenções, inclusive com ameaças veladas a cargos de chefia.
Dados sobre as prisões do ICE
A investigação também aponta que menos de 40% dos detidos pelo ICE possuem condenações criminais nos EUA. Entre esses, cerca de 8% têm histórico de crime violento e 9% possuem condenações por infrações de trânsito.
Apesar das críticas, porta-vozes do DHS e da Casa Branca defenderam a estratégia, alegando ao jornal que a intensificação das ações migratórias está diretamente ligada à segurança pública e nacional. O departamento afirmou ainda que crimes como exploração infantil, tráfico e terrorismo têm "nexo com a imigração ilegal".
Com o reforço às operações, o número de pessoas em centros de detenção superou 60 mil neste ano, um recorde, e mais de 550 mil imigrantes foram deportados.
O orçamento aprovado pelo Congresso destinou cerca de US$ 162 bilhões (R$ 858,6 bilhões)adicionais ao DHS para atividades ligadas à fronteira e à imigração, elevando para mais da metade a parcela da verba dedicada ao setor.