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Maduro pede união 'contra o imperialismo e sua tentativa de trazer uma guerra'

Presidente lembrou que a Alemanha nazista, sob ordens de Adolf Hitler, minou a ordem internacional vigente, ignorando as resoluções da Sociedade das Nações.
Maduro pede união 'contra o imperialismo e sua tentativa de trazer uma guerra'Gettyimages.ru / Pedro Mattey/Anadolu

O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, afirmou nesta sexta-feira (14) que os povos do mundo deveriam se rebelar "contra o imperialismo" [a governança imposta pelos EUA] e "sua tentativa de trazer uma guerra" para a região da América Latina e do Caribe.

"É preciso cultivar a consciência e a rebeldia permanente dos povos. E de todos. Se todos nos rebelarmos contra o império do mal e os nazistas, quem poderá contra nós? […]. Eu, como revolucionário, digo: se todos os povos conscientes desta América nos rebelarmos contra o imperialismo e sua tentativa de trazer uma guerra, quem poderá nos derrotar? Ninguém. 'Never, never, never'", afirmou o mandatário durante sua participação em um encontro de juristas especialistas em direito internacional, na capital Caracas.

Lições da história

No âmbito de uma reflexão histórica sobre o surgimento do direito internacional e a necessidade de respeitá-lo integralmente, sob pena de causar graves danos, o mandatário venezuelano lembrou que a Alemanha nazista atacou sistematicamente a ordem internacional surgida após a Primeira Guerra Mundial, com o objetivo de impor sua supremacia às demais nações.

"A primeira coisa que o nazifascismo fez quando surgiu na Europa, a primeira coisa que [Adolf] Hitler fez, foi começar a burlar os pactos iniciadores do direito internacional e começar a acreditar e a postular a preeminência de seu poder, acima do direito internacional" e com base na invocação de uma pretensa "excepcionalidade jurídica internacional", apontou.

Maduro afirmou também que "a primeira coisa que o nazifascismo fez foi ignorar as fronteiras dos países, o direito dos povos à paz [...], preparar as suas poderosas armas para bombardear as cidades da Espanha, apoiar o golpe de Estado de [Francisco] Franco, outro fascista criminoso, para [...] demonstrar, como aconteceu em Gaza, que era possível destruir um país e que todos os outros tinham que recuar diante do poder militar intimidador do nazifascismo".

O presidente venezuelano relatou que, após a derrota da Espanha republicana, "com a fraqueza das capitais poderosas da Europa da época, Londres e Paris", que optaram por recuar diante do nazifascismo, contribuíram decisivamente para o horror da Segunda Guerra Mundial.

"Uma das características que vocês expuseram em suas apresentações é precisamente o desprezo pelo direito público internacional, pelo direito humanitário internacional; o desprezo pelos povos e pela vida dos povos do mundo que as correntes extremistas da direita nazifascista têm quando tomam o poder. E o ressurgimento dos piores sentimentos imperialistas hoje nos EUA são contra nossos povos da América. Não, não é contra Maduro. Nem mesmo é contra a Venezuela: é contra toda a América. E se é contra toda a América, é contra toda a humanidade essa ofensiva de violação dos direitos humanos e do direito internacional mundial", concluiu. 

Nova escalada

Na quinta-feira (13), o secretário de Guerra dos EUA, Peter Hegseth, anunciou o início da "Operação Lança do Sul", cujo objetivo declarado é "eliminar os narcoterroristas" do hemisfério ocidental e "proteger" o território americano "das drogas que estão matando" seus cidadãos. O alto funcionário não forneceu detalhes sobre o alcance, o âmbito preciso da operação, o número de tropas empregadas, o tipo de armamento ou a duração da operação.

A informação divulgada pelo chefe do Pentágono despertou  preocupação entre membros da comunidade internacional.

O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, declarou que a Rússia espera que não sejam tomadas "medidas que pudessem levar à desestabilização da situação no Caribe e em torno da Venezuela". A porta-voz do Ministério das Relações Exteriores russo, Maria Zakharova, advertiu que Moscou se opõe ao uso da força pelos EUA contra o país bolivariano.

Por sua vez, o ministro das Relações Exteriores de Cuba, Bruno Rodríguez Parilla, denunciou que, diante da falta de evidências confiáveis, Washington recorre "à falácia" para justificar "um desdobramento militar desproporcional, extraordinário, mobilizado sob falsos pretextos".

A agressão dos EUA contra a Venezuela

Desde agosto, os Estados Unidos têm destacado uma força militar significativa na costa da Venezuela composta por navios de guerra, submarinos, aviões de combate e tropas, justificando essas ações como parte da luta contra o narcotráfico. Desde então, os militares realizaram vários bombardeios contra embarcações que supostamente transportavam drogas no Mar do Caribe e no Oceano Pacífico, deixando mais de 70 mortos.

Paralelamente, Washington acusou o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, de liderar uma organização de tráfico de drogas, sem apresentar provas que sustentem tal afirmação.

Falso pretexto da luta contra o narcotráfico

Diante das acusações dos Estados Unidos, as autoridades venezuelanas articularam uma resposta unificada que rejeita o quadro de confronto bilateral e denuncia que se trata de uma campanha de agressão multilateral. Maduro classificou as ações de Washington como uma campanha de difamação e afirmou que essa estratégia busca manchar a imagem da Venezuela e de sua revolução como pretexto para agressões, algo que "já fizeram muitas vezes".

O presidente venezuelano explicou repetidamente que as agressões dos EUA contra a Venezuela visam "mudar o regime" no país e se apropriar de sua "imensa riqueza petrolífera".

Condenações internacionais

A posição venezuelana encontrou apoio na comunidade internacional. O ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergey Lavrovdeclarou que as ações dos Estados Unidos "não levarão a nada de bom". Classificando como inaceitável a destruição de navios sem "julgamento ou processo", o ministro das Relações Exteriores afirmou que "é assim que agem os países fora da lei". Além disso, alertou que a política do governo Trump "não melhorará a reputação de Washington perante a comunidade internacional".

Além disso, as operações militares, que incluem bombardeios contra barcos de pequeno porte, foram condenadas pelo alto comissário da ONU para os Direitos Humanos, Volker Türk, bem como pelos governos da ColômbiaMéxico Brasil. Especialistas internacionais classificaram esses ataques como "execuções sumárias" que violam o direito internacional.