'A Queda do Céu' estreia na COP30 com Davi Kopenawa e ecoa alerta dos Yanomami ao mundo

Com imagens da floresta e vozes originárias, filme apresenta crítica xamânica ao modelo extrativista.

Em meio às discussões internacionais da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, a COP30, a capital paraense recebe a sessão especial do documentário "A Queda do Céu", com a presença do líder Yanomami Davi Kopenawa e do diretor Eryk Rocha nesta terça-feira (13).

Falado inteiramente em Yanomami, o documentário acompanha o xamã Davi Kopenawa e a comunidade de Watorikɨ durante o ritual Reahu, convocando imagens, sons e memórias para enfrentar o que chamam de "povo da mercadoria".

Com direção de Eryk Rocha e Gabriela Carneiro da Cunha, o longa é inspirado no livro homônimo escrito por Kopenawa e pelo antropólogo francês Bruce Albert. A narrativa se constrói a partir de uma crítica xamânica que denuncia o avanço do garimpo, a contaminação dos rios, a chegada das epidemias xawara e o colapso iminente.

"Os brancos só ouvem a palavra do agronegócio", alerta Kopenawa no filme. "Eles são apaixonados por coisas que tiram da terra".

A composição dos planos e o trabalho de câmera inserem o espectador no interior da floresta, não como observador externo, mas como parte do espaço que vivencia, simultaneamente, o desamparo e a resistência da comunidade de Watorikɨ.

"O céu cairá quando os Yanomami desaparecerem", avisa o xamã. E mesmo diante do medo de violência, das doenças, da destruição dos peixes, da água, da floresta, os indígenas Yanomami pontuam a questão mais importante para a comunidade: o medo de desaparecer. "Nós queremos morrer velhos! fizemos filhos, mas não queremos acabar", confessaram.

Ao longo da obra, a ausência de palavras como "dinheiro", "mercadoria" ou "bomba" no idioma Yanomami revela que esses conceitos não pertencem ao mundo que ali se afirma.

Em momentos de sobreposição sonora entre os cantos xapiri e os ruídos da destruição, o filme articula uma tensão entre cosmologia e colapso, convocando o espectador a imaginar possibilidades fora da lógica dominante. Em uma das sequências mais marcantes, uma fala ritualizada anuncia a consequência do desequilíbrio ambiental: "tudo ficará quente, a chuva cairá, o espírito do trovão matará vocês. Aí vocês irão chorar como crianças. É uma vingança do mundo".

Com estreia mundial em Cannes e 25 prêmios em mais de 80 festivais internacionais, o documentário chega aos cinemas brasileiros em 20 de novembro. Em Belém, sua exibição integra a programação da 10ª Mostra de Cinema da Amazônia, em parceria com o Observatório do Clima.

Na COP30, onde líderes políticos, cientistas e representantes da sociedade civil discutem o futuro das políticas climáticas, o documentário insere a perspectiva dos povos indígenas, ao mostrar que a destruição da floresta está ligada à permanência de seus povos. Com imagens e relatos, o filme reforça o alerta de que o "tempo de lamento" pode já ter começado.