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França e Polônia demonstram preocupação com rápido rearmamento da Alemanha e citam receio histórico

Para Paris e Varsóvia, a expansão militar de Berlim altera o equilíbrio político e estratégico da Europa, aponta o portal POLITICO.
França e Polônia demonstram preocupação com rápido rearmamento da Alemanha e citam receio históricoGettyimages.ru / Laszlo Pinter/picture alliance

A Alemanha se prepara para se tornar novamente a principal potência militar da Europa, em um movimento que é visto como uma possível alteração da ordem política europeia e que gera inquietação entre seus aliados, especialmente a França e a Polônia.

Segundo informações do portal POLITICO, divulgadas nesta quarta-feira (12), o rearmamento alemão representa a maior transformação militar do país desde a reunificação.

De acordo com a matéria, durante décadas, a União Europeia operou em um conjunto já determinado, com Berlin cuidando das finanças, e Paris, da defesa. A combinação, porém, começou a mudar.

  • A Alemanha deve investir cerca de 153 bilhões de euros (R$ 937 bilhões) por ano em defesa até 2029, o equivalente a 3,5% do PIB.
  • A França planeja alcançar cerca de 80 bilhões de euros (R$ 490 bilhões) bilhões até 2030.
  • A Polônia, por sua vez, destinará 186 bilhões de zlotys (R$ 269 bilhões) em 2025, 4,7% do PIB, o maior percentual entre os membros da OTAN.

Ainda segundo o portal, Christoph Schmid, parlamentar social-democrata e membro da comissão de defesa do Parlamento alemão, afirmou que a expectativa é que a Alemanha "finalmente iguale seu peso econômico ao poder de defesa".

"Em todos os lugares que vou, dos Bálticos à Ásia, as pessoas pedem que a Alemanha assuma mais responsabilidade", disse.

O plano alemão prevê €83 bilhões de euros (R$ 508 bilhões) em contratos militares a serem aprovados até 2026, cobrindo áreas como tanques, fragatas, drones e satélites. Ao todo, há uma "lista de desejos" de 377 bilhões de euros (R$ 2,3 trilhões) para mais de 320 novos programas. Menos de 10% dos contratos devem ir para fornecedores norte-americanos, o que marca uma guinada em direção à indústria europeia, sobretudo à própria indústria alemã, diz o portal.

Essa estratégia, segundo um diplomata ouvido pelo POLITICO, é "o acontecimento mais importante no nível da União Europeia neste momento". Outro funcionário do bloco descreveu o impacto como "ponto de virada irreversível".

Ceticismo na França

Em Paris, o fortalecimento de Berlim é visto com desconfiança. "Será difícil trabalhar com eles, porque serão extremamente dominantes", disse um oficial de defesa francês, acrescentando que a preocupação vai além do campo militar. "Eles não precisarão invadir Alsácia e Moselle; podem simplesmente comprá-las", ironizou, em referência às regiões francesas que a Alemanha invadiu com sucesso durante a conquista da França em 1940.

A tensão também se reflete em projetos conjuntos, como o Sistema Aéreo de Combate Futuro (Future Combat Air System, FCAS), o programa trilateral entre França, Alemanha e Espanha para desenvolver o próximo caça europeu.

O impasse sobre a divisão de responsabilidades ameaça a cooperação, e Berlim tem cogitado alternativas com Suécia, Reino Unido ou apenas com Madri. "Quando a Alemanha diz que vai excluir a França, isso não incomoda vocês?", questionou Éric Trappier, CEO da Dassault Aviation, a parlamentares franceses.

Polônia aponta para a história

Na Polônia, a reação é mais pragmática. "Não podemos exigir que todos aumentem os gastos com defesa e, ao mesmo tempo, dizer: 'menos você, Alemanha'", afirmou Marek Magierowski, ex-embaixador polonês em Israel e nos Estados Unidos. Ainda assim, as lembranças do passado permanecem.

"Uma Alemanha que combina poder econômico e militar sempre gerou receios", disse o vice-ministro da Defesa, Pawel Zalewski, em clara referência ao início da Segunda Guerra Mundial.

Para Varsóvia, o rearmamento alemão é uma resposta natural à possível redução da presença militar dos Estados Unidos na Europa.

"Os principais países na defesa do flanco leste serão Polônia e Alemanha", declarou Zalewski. Mesmo assim, alertou para a necessidade de vigilância: "Precisamos verificar constantemente o comprometimento da Alemanha com a defesa da ordem internacional".