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'O mundo não perdoará a falta de ação', alerta chefe climático da ONU na COP30

Simon Stiell afirma que governos que não adotarem economia de baixo carbono enfrentarão fome, conflitos e estagnação econômica.
'O mundo não perdoará a falta de ação', alerta chefe climático da ONU na COP30Gettyimages.ru / Andreas Rentz

O secretário-executivo da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC), Simon Stiell, afirmou nesta segunda-feira (10) que os países que não avançarem em direção a uma economia de baixo carbono serão responsabilizados por futuras crises de fome e conflitos.

A declaração foi feita na abertura da COP30, em Belém (PA), com a presença de representantes de quase 200 nações.

"Nem uma única nação pode se dar ao luxo de ignorar isso, enquanto os desastres climáticos tiram pontos percentuais inteiros do PIB", disse Stiell. Ele destacou que "discutir enquanto a fome se espalha e milhões fogem de suas terras nunca será perdoado".

A conferência, sediada pela primeira vez na Amazônia, busca definir metas concretas para reduzir emissões, acelerar o abandono dos combustíveis fósseis e garantir financiamento a países mais vulneráveis.

Apesar de o planeta já ter ultrapassado temporariamente o limite de 1,5 °C estabelecido no Acordo de Paris, Stiell reforçou que "a ciência é clara: podemos e devemos trazer as temperaturas de volta ao patamar de 1,5 °C após qualquer alta temporária".

Segundo ele, eventos extremos como secas, enchentes e furacões já afetam a economia mundial, elevando preços e pressionando cadeias de abastecimento. Stiell afirmou ainda que a energia limpa, hoje mais barata que os combustíveis fósseis em 90% do mundo, pode gerar crescimento e empregos. "Os que ficarem para trás enfrentarão estagnação e custos mais altos", alertou.

Aprovação da agenda

O governo brasileiro conseguiu aprovar a agenda oficial da conferência antes da abertura, evitando disputas que atrasaram encontros anteriores. Mesmo assim, temas como financiamento climático e novas metas de redução de gases ainda geram divergências.

O grupo dos Países em Desenvolvimento de Mentalidade Semelhante, liderado pela Arábia Saudita, se opôs a parte das discussões, especialmente sobre os planos nacionais de emissões.

Outro ponto de tensão é o plano para concretizar a transição global longe dos combustíveis fósseis, compromisso assumido na COP28. Também estão em pauta as "contribuições nacionalmente determinadas" (NDCs), consideradas insuficientes para limitar o aquecimento a menos de 2 °C, o que pode levar a "pontos de não retorno" climáticos, segundo especialistas.

Durante a cerimônia de abertura, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu uma "rota clara" para superar a dependência global de combustíveis fósseis e destacou a importância de proteger a floresta amazônica e as populações indígenas.

"Precisamos colocar as pessoas no centro da ação climática", afirmou. Ele também criticou aqueles que negam a ciência e espalham desinformação sobre o tema.

Lula concluiu pedindo mais urgência na implementação das políticas ambientais. "Espero que a serenidade da floresta inspire em todos nós a clareza de pensamento de que o mundo precisa", disse.