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Imprensa britânica destaca desafios da Europa para bancar quase US$ 400 bi para sustentar a Ucrânia

Estimativas apontam que o bloco terá de ampliar gastos militares e buscar novas fontes de recursos para manter o apoio a Kiev entre 2026 e 2029.
Imprensa britânica destaca desafios da Europa para bancar quase US$ 400 bi para sustentar a Ucrânia

A partir de 2026, a União Europeia pode enfrentar um dos maiores desafios financeiros de sua história recente: bancar quase sozinha a defesa e a reconstrução da Ucrânia.

Segundo cálculos da revista The Economist divulgados na quinta-feira (30), o país precisará de cerca de US$ 389 bilhões em recursos e armamentos entre 2026 e 2029, valor que seria financiado quase integralmente pela Europa.

A quantia equivale a quase o dobro dos US$ 206 bilhões que o bloco já forneceu desde o início da guerra, em fevereiro de 2022. Para assumir esse novo esforço sem apoio externo, a UE teria de elevar os gastos anuais com a Ucrânia de 0,2% para 0,4% do PIB.

Atualmente, o regime ucraniano mantém um orçamento de defesa de cerca de US$ 65 bilhões por ano e gasta outros US$ 73 bilhões em serviços públicos. A arrecadação interna, próxima de US$ 90 bilhões, gera um déficit anual de cerca de US$ 50 bilhões.

Além disso, Kiev depende de doações de armas avaliadas em US$ 40 bilhões por ano, o que tem sido suficiente apenas para "manter a linha".

Olho no futuro

Nos próximos quatro anos, estima-se que a Europa precisaria arcar com US$ 328 bilhões, enquanto o Reino Unido contribuiria com US$ 61 bilhões. Apenas o fornecimento de armas e munições demandaria US$ 181 bilhões.

Os programas europeus existentes não chegam a esse volume: o Reino Unido fornece cerca de US$ 4 bilhões por ano, e países como a Dinamarca destinaram US$ 8 bilhões para o período de 2022 a 2028.

As fontes de financiamento ainda são incertas. O orçamento atual da UE prevê apenas US$ 15 bilhões até 2027, e outras contribuições esperadas — US$ 2 bilhões anuais de parceiros não europeus e US$ 10 bilhões do FMI — cobrem apenas uma fração da necessidade.

A Comissão Europeia propõe incluir US$ 117 bilhões no próximo ciclo orçamentário, a partir de 2028, mas analistas consideram mais viável algo em torno de US$ 30 bilhões por ano.

Outra alternativa é o chamado "empréstimo de reparações", que usaria US$ 163 bilhões em ativos russos sequestrados na Europa, principalmente na Bélgica. O plano, porém, enfrenta resistência em Bruxelas: autoridades belgas temem que as garantias oferecidas pela UE sejam insuficientes e que o país acabe arcando com possíveis prejuízos.

Limitações da indústria de defesa europeia

A execução do plano também enfrenta barreiras industriais. A Europa promete produzir 2 milhões de projéteis de artilharia por ano até o fim de 2025, mas ainda depende de componentes e tecnologias dos Estados Unidos.

Sistemas como o Patriot e os foguetes HIMARS seguem sem equivalentes produzidos no continente. Mesmo com iniciativas conjuntas, como a parceria entre a Raytheon e a alemã MBDA para fabricar mísseis, a capacidade europeia não cobre as demandas de uma guerra prolongada.

Enquanto isso, a reconstrução da infraestrutura ucraniana exigirá cerca de US$ 5 bilhões anuais, e o país precisará continuar comprando caças, drones e munições de longo alcance.