Cinquenta anos após morte de Vladimir Herzog, vítimas da Ditadura ainda aguardam justiça

Meio século depois, Brasil ainda convive com a impunidade dos agentes do aparato de assassinato e tortura.

Neste sábado, 25 de outubro de 2025, completam-se 50 anos da morte do jornalista e cineasta Vladimir Herzog, torturado e assassinado por agentes da Ditadura Militar Brasileira após se apresentar no DOI-CODI, em São Paulo, para "prestar esclarecimentos" sobre suas atividades no Partido Comunista Brasileiro.

Detentor de uma carreira de sucesso, que incluiu a direção do departamento de telejornalismo da TV Cultura, trabalhos na dramaturgia e docência em faculdades, Herzog se tornou símbolo da resistência a um regime opressor, apoiado pelos EUA para conter a influência da URSS na América Latina.

Os agentes responsáveis por sua morte tentaram forjar um suicídio, pendurando o corpo, de joelhos dobrados, em uma janela baixa — imagem que se tornaria um dos símbolos mais marcantes da brutalidade e da desfaçatez da ditadura. Mesmo após investigações confirmarem que Herzog foi assassinado sob tortura, ninguém jamais foi responsabilizado.

"O Brasil é um país que nunca enfrentou de fato o seu passado. Sempre optamos por conciliação, por virar a página sem ler o que estava escrito", lamenta Ivo Herzog, filho do jornalista e presidente do conselho do Instituto Vladimir Herzog (IVH), organização dedicada à defesa dos direitos humanos, conforme citado pelo jornal Brasil de Fato.

Já Amelinha Teles, que foi militante do PCdoB contra a ditadura militar e chegou a ser torturada pelo regime, afirmou ao veículo que o Estado brasileiro, até hoje, insiste em "apagar" e "negar" histórias como a sua ou a de Herzog:

"O comportamento, de uma forma geral, das instituições, é extremamente hostil às nossas reivindicações. (...) Na minha opinião, falta vontade política do Estado brasileiro. Porque esses crimes têm sido reiteradamente comprovados. Tem provas. Os familiares reuniram documentos, provas, testemunhas", afirmou.

Documentos da época revelam que agentes da CIA auxiliaram as autoridades brasileiras a aperfeiçoar métodos de tortura utilizados ao longo de décadas, incluindo choques elétricos aplicados em diversas partes do corpo — até mesmo nas regiões genitais —, afogamento simulado, espancamentos e agressões físicas reiteradas. Apesar disso, graças à Lei de Anistia, nenhum agente da Ditadura Militar brasileira foi condenado criminalmente por casos de tortura, assassinato ou desaparecimento político cometidos entre 1964 e 1985.