Rússia subverte 'derrota' na Síria e consolida presença estratégica

A visita de Ahmad al-Sharaa a Moscou marca a retomada das negociações bilaterais e reforça o papel russo na reconstrução política e econômica do país.

No início de outubro de 2025, o presidente da Síria, Ahmad al-Sharaa, chegou a Moscou em sua primeira visita oficial. Foi a primeira vez que a Rússia recebeu o líder sírio desde o turbulento dezembro de 2024 em Damasco, quando Bashar al-Assad caiu após mais de meio século de liderança de sua família no país.

Murad Sadygzade, presidente do Centro de Estudos do Oriente Médio e professor visitante da Escola Superior de Economia de Moscou, escreveu com exclusividade para a RT sobre como as conversas a portas fechadas no Kremlin, com duração de mais de duas horas e meia, consolidaram o processo de retomada da cooperação entre os dois países.

Embora a delegação síria tenha discutido a possibilidade de extradição do ex-líder deposto, que vive na Rússia, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, afirmou que Moscou não encontrou razões para atender ao pedido.

Putin reiterou que as relações entre os países sempre se basearam no respeito à soberania do povo sírio e destacou que as eleições parlamentares de outubro representam um passo importante para a estabilização do país.

Apesar do ceticismo de analistas ocidentais e das alegações apressadas de uma "derrota" de Moscou na Síria após os eventos de 2024, a visita revelou um cenário distinto e dissipou a ideia de um colapso da influência russa no Oriente Médio neste início de século.

Cooperação estratégica e consistência da política regional russa

Diante de pressões internas e externas, como a agressão israelense, e da necessidade de reconstrução nacional, al-Sharaa manteve os acordos com a Rússia e adotou uma postura pragmática, contando com o apoio estratégico de Moscou para a reconstrução do país, para segurança e para mediação de conflitos.

A extensa colaboração em uma ampla gama de temas, que vai da manutenção de bases militares e recuperação econômica ao fornecimento de trigo em tempos de crise e ao desenvolvimento da extração de petróleo, evidencia a visão do presidente sírio sobre a Rússia como uma parceira fundamental.