Os eleitores bolivianos votam neste domingo (19) no segundo turno das eleições presidenciais, que marcará a escolha de um líder de direita após 20 anos de governos do MAS (Movimento ao Socialismo), de esquerda. Os concorrentes são Rodrigo Paz Pereira, do Partido Democrata Cristão (centro-direita), vencedor do primeiro turno com 32,14% dos votos, e Jorge "Tuto" Quiroga, da Aliança Livre (direita), que obteve 26,81% na etapa inicial.
De acordo com dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), pelo menos 7.937.138 cidadãos estão habilitados a votar nestas eleições. Desse número, 7.567.207 devem votar no território nacional e os 369.931 restantes no exterior.
O segundo turno é realizado depois que, no primeiro turno, realizado em 17 de agosto, nenhum dos candidatos obteve mais de 50% dos votos válidos ou um mínimo de 40%, com uma diferença de pelo menos 10% em relação ao segundo candidato mais votado, de acordo com o que estabelece a Constituição para definir um vencedor em primeira instância.
Quem é Rodrigo Paz Pereira?
Paz Pereira é senador e filho do ex-presidente Jaime Paz Zamora. Não aparecia com destaque em nenhuma pesquisa, figurando entre os últimos na intenção de voto. É economista, com mestrado em Gestão Política pela American University, nos EUA.
Nascido na Espanha, Paz Pereira é um político com longa trajetória. Nas eleições gerais de 2002, foi eleito deputado, e em 2015, prefeito de Tarija, capital do departamento de mesmo nome, pelo Movimento da Esquerda Revolucionária (MIR).
Desta vez, é candidato pelo Partido Democrata Cristão (PDC), com propostas como salário universal para mulheres, melhorias na educação e união nacional para resolver os problemas da nação andina.
Em entrevista recente à Rádio Panamericana, falou sobre três pontos centrais de um eventual governo: um plano 50-50 — metade dos recursos para o governo central e a outra metade para as regiões — como parte de um "novo acordo nacional de convivência".
Sua segunda proposta-chave é "capitalismo para todos", por meio de crédito barato, redução de impostos e tarifas, para estimular o comércio, embora descarte um acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI). Quer “fechar a alfândega corrupta” para adquirir melhor tecnologia e impulsionar a indústria boliviana.
Em terceiro lugar, uma “luta frontal para reformar a justiça”, com um combate firme contra a corrupção. Para isso, pretende criar uma comissão nacional “com os melhores homens e mulheres”.
Quem é Tuto Quiroga?
Formado como engenheiro e administrador de empresas em universidades dos Estados Unidos, Jorge Fernando Quiroga Ramírez, mais conhecido como 'Tuto', foi um dos políticos que governou a Bolívia em um de seus períodos mais turbulentos.
Exerceu o cargo de chefe de Estado de forma interina (2001-2002), após Hugo Banzer deixar a Presidência por conta de um diagnóstico de câncer. Quiroga era seu vice-presidente, cargo pelo qual recebeu diversas críticas.
Banzer governou a Bolívia de forma ditatorial entre 1971 e 1978, antes de apostar na democracia nos anos 1990. Quando Quiroga deixou o cargo em 2002, alternou entre a política ativa e trabalhos em fóruns multilaterais e missões internacionais, tornando-se uma das figuras mais visíveis da direita latino-americana.
Quiroga, da "Alianza Libre", tem um plano de governo baseado em "sete pilares": salvar a economia; reativar a produção; propriedade popular; Bolívia digital; democracia, autonomia, justiça e segurança; política social; e reinserção internacional.
Aos 65 anos, propõe uma "mudança radical" que inclui um acordo com o FMI para obter "um valor importante em dólares", entre 2 e 4 bilhões.
No comércio, defende seguir "o exemplo de Chile e Peru", buscando acordos com grandes blocos para fortalecer as exportações. Os principais mercados com os quais pretende firmar parcerias são China e Índia, além dos Estados Unidos e da União Europeia.
Quiroga quer "desmantelar o sistema de escolha dos altos cargos do Órgão Judicial (magistraturas do Tribunal Constitucional, Tribunal Supremo de Justiça, Conselho da Magistratura e Tribunal Agroambiental)", para "garantir transparência e independência no sistema de justiça".
Na política externa, propõe "uma nova inserção internacional", o que representaria uma mudança em relação à atual gestão. "A Bolívia deve voltar ao caminho da democracia, da independência dos poderes, da segurança jurídica, e assim se tornar um país atrativo para investimentos, seguro para o turismo e confiável para empréstimos", afirma seu projeto.