Relatórios do governo dos EUA contradizem justificativa de Trump para operações militares no Caribe

Dados do Departamento de Segurança Interna indicam que principais rotas do narcotráfico não passam pela Venezuela, foco das ações norte-americanas.

Relatórios de agências do governo dos Estados Unidos contestam a justificativa apresentada pelo presidente Donald Trump para a intensificação das operações militares no Caribe, oficialmente voltadas ao combate ao narcotráfico. As informações foram divulgadas neste sábado (18) pelo portal UOL.

Nas últimas semanas, Washington mobilizou milhares de soldados, autorizou a atuação da CIA e intensificou bombardeios a embarcações na região sob o argumento de interromper o fluxo de drogas entre a Venezuela e os Estados Unidos.

Entretanto, dados da Agência Antidrogas (DEA) mostram que 84% da cocaína apreendida no país é de origem colombiana, e o relatório não menciona a Venezuela.

Outros levantamentos do próprio governo norte-americano reforçam a discrepância entre os alvos das operações e a realidade do tráfico. Documentos da administração Trump apontam que a rota do Pacífico responde por 74% do fluxo de drogas vindas da América do Sul.

A agência da ONU sobre Drogas e Crime, com sede em Viena, também indica que o principal trajeto do narcotráfico regional passa pelo Oceano Pacífico, por rotas que incluem portos do Peru, da Colômbia e do Equador. A intensificação do caminho ocorreu a partir de 2019, após medidas adotadas pelo governo venezuelano que dificultaram o trânsito de drogas pelo país.

Apesar disso, Trump já sugeriu que poderia autorizar ataques em território venezuelano, ampliando o escopo da ofensiva.

Ainda de acordo com o UOL, o Departamento de Segurança Interna dos EUA, por sua vez, elogiou recentemente a operação Pacific Viper, voltada ao bloqueio de drogas na costa pacífica, e não no Caribe, responsável pela apreensão de mais de 45 toneladas de cocaína desde agosto.

As contradições entre os dados oficiais e as justificativas presidenciais levaram diplomatas e parlamentares norte-americanos a questionar os reais objetivos da campanha militar. Segundo o senador democrata Jack Reed, "não há evidências de que os ataques realizados tenham sido conduzidos em legítima defesa", em referência às ações navais e bombardeios ocorridos próximos à Venezuela.