Israel obteve "vitórias tremendas", afirmou no domingo (12) o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, que agradeceu às suas forças armadas pelos esforços e aos cidadãos pela lealdade na véspera da libertação dos reféns mantidos pelo Hamas.
"Unindo forças, alcançamos vitórias tremendas. Vitórias que surpreenderam o mundo inteiro. E quero dizer: em todos os lugares onde lutamos, vencemos", celebrou em seu pronunciamento.
Netanyahu, entretanto, advertiu que "a campanha não terminou", sinalizando para a continuidade do conflito diante de "questões de segurança". "Alguns de nossos inimigos estão tentando recuperar suas forças para nos atacar novamente", alertou o primeiro-ministro.
O chefe do Estado-Maior das Forças de Defesa de Israel, Eyal Zamir, seguiu a mesma linha ao prometer que suas forças garantirão que "a Faixa de Gaza não represente mais uma ameaça ao Estado de Israel".
Já o presidente americano Donald Trump sinalizou o oposto. "A guerra acabou, ok? Você entendeu?", enfatizou Trump nesta segunda-feira (13) a caminho de Tel Aviv, em coletiva de imprensa publicada pelo The Guardian, contradizendo seu homólogo israelense.
Voltando para ruínas
Após a retirada parcial das tropas na sexta-feira (10), dezenas de milhares de palestinos deslocados começaram a retornar ao norte de Gaza, destruído por dois anos de bombardeios israelenses. Segundo estimativas da ONU, ao menos 1,9 milhão de pessoas, ou 90% da população, foram forçadas a abandonar suas casas devido aos ataques.
A ONU também reporta que 92% dos edifícios residenciais em Gaza foram danificados ou destruídos, enquanto centenas de milhares de palestinos foram forçados a viver em tendas e outros abrigos temporários.
A maioria dos moradores encontrará ruínas no lugar de seus bairros, afirmou o relator especial da ONU sobre o direito à moradia, Balakrishnan Rajagopal, citado pela Al Jazeera. "Tornar o espaço inabitável é uma das muitas maneiras pelas quais praticaram o genocídio", completou.
Sofrimento da população
Durante os dois anos da última escalada do conflito palestino-israelense, mais de 67 mil habitantes da Faixa de Gaza morreram e cerca de 170 mil foram feridos, segundo dados do Ministério da Saúde de Gaza publicados no sábado (11).
Os ataques a hospitais e o bloqueio de ajuda humanitária privaram a população de medicamentos e cuidados médicos básicos, enquanto a grave escassez de água provocou uma crise sanitária e surtos de doenças infecciosas, conforme denunciado pela Organização Mundial da Saúde (OMS).
Em agosto, a ONU confirmou que Gaza passava por uma crise de fome, com base no relatório da Classificação Integrada de Segurança Alimentar (IPC). Desde essa publicação, foram registradas 185 mortes por fome e desnutrição, incluindo 42 crianças, aponta o Ministério da Saúde de Gaza. Com esses números, o total de mortos por essas causas chegou a 453 pessoas, incluindo 157 crianças.
O Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Volker Türk, em agosto, acusou o governo de Israel de usar a fome como método de guerra, um crime humanitário por violação das Convenções de Genebra.
"Intenção evidente" de genocídio
Conforme relatórios apresentados no mês passado pela Comissão Internacional Independente de Investigação da ONU, as autoridades e tropas israelenses cometeram quatro dos cinco atos de genocídio definidos na Convenção de 1948: assassinatos em massa, prática de graves danos físicos e psicológicos, criação de condições para destruir a população palestina e imposição de medidas anti-natalidade.
Navi Pillay, presidente da comissão, afirmou que existe uma "intenção clara de exterminar os palestinos em Gaza" e apontou a responsabilidade das mais altas autoridades israelenses.
O Hamas iniciou a libertação dos reféns na manhã desta segunda-feira (13). O cessar-fogo com Israel entrou em vigor na sexta-feira (10), quando o Exército de Defesa de Israel recuou para as linhas acordadas no plano de paz proposto por Donald Trump no mês passado.
A partir desse momento, começou a contagem regressiva de 72 horas concedida ao movimento para libertar os demais reféns vivos e os corpos daqueles que morreram sob sua custódia.