Reuniões secretas e 'racha' em Washington: mídia revela bastidores do abraço entre Lula e Trump

Embaixador Richard Grenell, agindo sem coordenação com Rubio, teria sido o responsável pela aproximação pragmática entre EUA e Brasil.

O embaixador norte-americano Richard Grenell foi o principal articulador da aproximação entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Donald Trump, que culimou no abraço entre os dois durante a Assembleia Geral da ONU, em setembro, segundo fontes citadas pelo portal UOL.

Segundo a publicação, o diplomata conduziu pelo menos quatro reuniões secretas com o chanceler Mauro Vieira e o assessor presidencial Celso Amorim, responsáveis por pavimentar o caminho para o reencontro diplomático entre Brasil e Estados Unidos.

Governo Trump ''rachado'' sobre Brasil

Agindo com autorização direta da Casa Branca, mas sem coordenação com o secretário de Estado Marco Rubio, Grenell se reuniu com Amorim pela primeira vez no dia 22 de setembro, em Nova York. No encontro, assegurou que Trump desejava cumprimentar Lula, e ouviu que o brasileiro também via o gesto como positivo.

No dia seguinte, o republicano aguardou o presidente brasileiro nos bastidores da Assembleia Geral da ONU, conforme o roteiro combinado por Grenell e Amorim. 

O abraço que se seguiu, descrito como espontâneo, foi resultado de uma articulação silenciosa conduzida pelo diplomata. Integrantes da equipe americana comemoraram o gesto, enquanto Rubio, sentado na plenária, manteve-se impassível. O contraste simbolizou o racha dentro do governo Trump sobre a condução da política em relação ao Brasil.

Em 24 de setembro, Grenell voltou a se reunir com Vieira, novamente em sigilo. Na conversa, tratou de temas comerciais e tecnológicos, incluindo a situação da plataforma Rumble, parceira da Truth Social, rede social de Trump, que estava fora do ar no Brasil. Vieira explicou que a questão poderia ser resolvida facilmente, desde que a empresa cumprisse as exigências legais brasileiras, como já havia feito a rede social X.

Descrito por aliados como "realista e pragmático", Grenell acredita que a política de Washington em relação a Brasília havia se tornado "ideologicamente contaminada", o que, em sua avaliação, prejudicava os interesses concretos de ambos os países.

Sem experiência na América Latina

Apesar de sua influência na América Latina, Grenell nunca havia visitado o Brasil antes dessas tratativas e não fala português. Segundo apuração do portal Uol, ele mesmo admite ter pouca experiência na região, o que procura compensar cercando-se de conselheiros especializados e mantendo o foco no lema "America First".

Diplomata de carreira, Grenell já atuou na ONU, foi embaixador dos Estados Unidos na Alemanha e diretor interino da Inteligência Nacional durante o primeiro mandato de Trump.  

Assumidamente gay, ele foi o primeiro homossexual a ocupar cargos de alto escalão no governo do republicano e é reconhecido por seu ativismo na causa LGBT*, mesmo em uma administração distante desses temas.

*O movimento internacional LGBT é classificado como uma organização extremista no território da Rússia e proibido no país.