Notícias

Venezuela denuncia na ONU que Estados Unidos planejam atacar o país "em um prazo muito curto"

Representante diplomático de Caracas também condenou a "retórica belicista" de Washington e classificou como "falácia" a alegação da Casa Branca de que as ações militares americanas no Caribe seriam para combater o narcotráfico.
Venezuela denuncia na ONU que Estados Unidos planejam atacar o país "em um prazo muito curto"Gettyimages.ru / EuropaNewswire/Gado

A Venezuela advertiu nesta sexta-feira (10), perante o Conselho de Segurança das Nações Unidas, que possui indícios que apontam para um ataque militar dos EUA ao seu território. A alegação seria a "falácia" do combate ao narcotráfico, que, por sua vez, serviu de justificativa para um deslocamento bélico próximo ao território venezuelano, incluindo caçaslançadores de mísseis, tropas e um submarino nuclear.

"As ações e a retórica belicista do governo estadunidense sinalizam objetivamente que estamos diante de uma situação na qual é racional pensar que, em um prazo muito curto, será executado um ataque armado contra a Venezuela", denunciou o representante permanente de Caracas na ONU, Samuel Moncada.

O diplomata argumentou que, diante do cenário, recorreu ao Conselho de Segurança porque a entidade "dispõe dos meios necessários para evitar que a situação se agrave ainda mais" e "para evitar a prática de um crime internacional".

A ação se baseia no que está consagrado na Carta da ONU, que detalha tanto as características que definem uma "ameaça" quanto os mecanismos para "preservar a paz".

"Se este órgão tem a vontade política de cumprir com seu compromisso, pode usar esses meios. O mundo hoje está nos vendo. É o momento de cumprir com as expectativas depositadas neste Conselho de Segurança por aqueles que acreditam na Carta da ONU", disse Moncada.

"Objetivo é uma guerra com a Venezuela"

O diplomata afirmou também que "a narrativa dos EUA tem pés de barro, não tem contato com a realidade" e obedece a motivações políticas do governo do presidente Donald Trump, que tem apelado a recursos como acusar a migração venezuelana de executar uma "invasão ao território estadunidense", estigmatizar esse grupo humano apenas por sua nacionalidade ou taxá-los de "terroristas".

"Trata-se da criminalização de todo o povo da Venezuela", afirmou.

"Com esta operação de desinformação, o governo dos EUA está atacando venezuelanos dentro e fora do território estadunidense. Nos consideram uma ameaça, inimigos estrangeiros. E há poucos dias inclusive declarou se encontrar em 'um conflito armado não internacional', com o único objetivo de ter carta branca para fazer a guerra contra a Venezuela", afirmou o representante venezuelano.

Consequências trágicas

Moncada disse ainda que as ações norte-americanas são sustentadas em uma "ficção", e que já trouxeram consigo consequências trágicas, como o assassinato "de 21 civis desarmados" em bombardeios contra pequenos barcos "que nunca representaram uma ameaça para sua segurança nacional".

"O governo dos EUA disfarça seus crimes usando a máscara da legítima defesa. Dessa forma, assassina civis sem apresentar informação sobre sua identidade, sem comprovar o tipo de carga que se encontrava nas embarcações e sem apresentar evidência sobre a iminência de um ataque armado contra as forças americanas. Isso não foi em legítima defesa, foram execuções extrajudiciais", criticou.

"Que direito têm os EUA?"

Moncada também expressou rejeição à militarização da América Latina e do Caribe por parte do Exército dos Estados Unidos.

"Que direito têm os EUA para militarizar a região do Caribe? Nenhum. Que direito têm os EUA para executar civis que têm direito à presunção de inocência e ao devido processo? Nenhum", expressou Moncada.

"O plano é claro"

O embaixador venezuelano na ONU também afirmou que o governo dos EUA tem como objetivo derrubar o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, para "instalar um regime fantoche" e transformar o país sul-americano em uma "colônia" estadunidense.

"O plano é claro. Trata-se outra vez de executar a operação que já fracassou, derrubar o presidente legítimo e constitucional da República Bolivariana da Venezuela, Nicolás Maduro Moros, com o propósito de instalar um regime fantoche e converter nosso país em colônia".

Nova onda de agressões

Além de questionar amplamente os métodos da Casa Branca para combater o narcotráfico por sua falta de correspondência com o direito internacional e os protocolos estabelecidos na ONU, o diplomata aludiu às tentativas da administração Trump de usar a justificativa das drogas como "desculpa" para iniciar uma guerra" além de suas fronteiras.

"A verdade é que o Governo dos EUA, segundo confirmou a imprensa internacional, já emitiu uma ordem secreta para autorizar o uso da força militar em território estrangeiro, com a desculpa de uma falsa luta contra o narcotráfico", afirmou. A isso se somariam operações encobertas da Agência Central de Inteligência (CIA) na América Latina e no Caribe.

"Tudo isso indica uma nova onda de agressões em nossa região", disse.

Caracas está aberta ao diálogo

Moncada mencionou que os EUA "não são um país excepcional" e também estão, como os demais, sujeitos ao direito internacional e ao texto da Carta da ONU.

"A Venezuela vem aqui hoje para exigir que o Governo dos EUA cumpra com suas obrigações internacionais", declarou, ressaltando que seu Caracas está disposta a manter canais de diálogo com o país norte-americano.

"Nosso país sempre esteve e estará disposto a dialogar com o objetivo de superar pela via política e diplomática qualquer dificuldade para preservar nossa região como uma zona de paz", disse Moncada.

Venezuela pede ações para conter ofensiva dos EUA

Moncada apresentou três "ações concretas" propostas por Caracas para conter a ofensiva estadunidense.

  • Que se reconheça a existência de uma ameaça à paz e à segurança internacionais pela atual escalada militar do governo dos EUA no Caribe.
  • Que se adotem as medidas necessárias para evitar que a situação na região se agrave ainda mais.
  • Que se aprove uma resolução do Conselho de Segurança na qual todos os seus membros, incluindo os EUA, se comprometam a respeitar a soberania, a independência e a integridade territorial da República Bolivariana da Venezuela.

"Venezuela responderá com toda sua força"

O embaixador venezuelano afirmou que os alertas da Venezuela perante o Conselho de Segurança da ONU buscam fazer com que o órgão "evite uma catástrofe que possa convulsionar toda a região por gerações".

"Não necessitamos nem queremos guerra com ninguém", afirmou Moncada, advertindo que se os EUA violarem a soberania da Venezuela e executarem um ataque armado contra o país, o país "responderá com toda sua força e na mesma medida que o faça a potência estrangeira".

"Todos necessitamos da paz, incluindo os EUA", afirmou.