O alto diplomata Vassily Nebenzia, representante da Rússia nas Nações Unidas (ONU), discursou nesta sexta-feira (10) durante uma reunião do Conselho de Segurança da organização, convocada pela Venezuela.
Ao longo de sua fala, ele denunciou que a soberania da Venezuela é submetida, há meses, à "pressão sem precedentes de invasão militar". "A cada dia, a situação se torna mais grave'', declarou o diplomata ao listar as crescentes movimentações militares norte-americanas na região, que incluem o deslocamento de 4.000 militares, destróieres, submarinos nucleares e aviões de patrulha.
"O que é isso? Preparação para uma invasão ou apenas treinamentos militares? Poderíamos acreditar na segunda hipótese se não estivéssemos falando de um Estado soberano, cuja derrubada do regime é abertamente mencionada por altos oficiais norte-americanos como meta de política externa", pontuou Nebenzia.
Narrativa que não se sustenta
Para Moscou, os venezuelanos têm ''motivos concretos'' para acreditar que os norte-americanos tornarão suas ameaças em ações.
Nebenzia criticou a narrativa americana sobre a existência dos "místicos Cartéis do Sol", que supostamente estariam movimentando grandes quantidades de drogas para os Estados Unidos. Para ele, trata-se de um tema digno de filme blockbuster norte-americano, em que os EUA aparecem como heróis salvando o mundo, mas sem respaldo em fatos.
Citando dados oficiais, o diplomata observou que a maior parte da cocaína que chega aos Estados Unidos entra pelo Oceano Pacífico, área à qual a Venezuela não tem acesso.
"A Casa Branca pode, é claro, rejeitar os dados da ONU, mas os próprios relatórios oficiais do Departamento de Estado" não mencionam os "cartéis do sol", observou.
O diplomata apontou ainda que em relatórios norte-americanos, Caracas só começou a aparecer nas discussões oficiais sobre o tema há poucos meses, sugerindo, em tom irônico, que até então os propagandistas americanos sequer haviam identificado qualquer ameaça real.
''Princípio do faroeste''
O governo russo criticou duramente as ações dos Estados Unidos em alto mar, nas quais Washington executa toda a tripulação de determinadas embarcações.
"Embarcações com pessoas foram simplesmente atacadas em alto mar, sem investigação ou julgamento, seguindo o princípio do faroeste de atirar primeiro. E agora, retroativamente, temos que acreditar que havia criminosos ali", afirmou a diplomacia russa, condenando essas violações graves da lei internacional.
Segundo Moscou, tais ações refletem a lógica do "excepcionalismo norte-americano", em que os EUA podem agir livremente enquanto outros países só podem fazer o que Washington permite.
Revolução colorida à vista?
A Rússia classificou essas medidas como parte de uma campanha aberta para pressionar, por meio de políticas e operações psicológicas, o governo de um país soberano, com o objetivo único de derrubar um governo que os EUA não aprovam.
Moscou comparou a operação às tradicionais "revoluções coloridas", que já causaram sofrimento a várias populações pelo mundo.