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Campanha contra Venezuela busca derrubar governo que os EUA não gostam, diz Rússia na ONU

Caracas é alvo das ferramentas tradicionais das revoluções coloridas, que causaram sofrimento de várias pessoas ao redor do mundo, denunciou Moscou.
Campanha contra Venezuela busca derrubar governo que os EUA não gostam, diz Rússia na ONUMichael M. Santiago/Getty Images

O alto diplomata Vassily Nebenzia, representante da Rússia nas Nações Unidas (ONU), discursou nesta sexta-feira (10) durante uma reunião do Conselho de Segurança da organização, convocada pela Venezuela.

Ao longo de sua fala, ele denunciou que a soberania da Venezuela é submetida, há meses, à "pressão sem precedentes de invasão militar". "A cada dia, a situação se torna mais grave'', declarou o diplomata ao listar as crescentes movimentações militares norte-americanas na região, que incluem o deslocamento de 4.000 militares, destróieres, submarinos nucleares e aviões de patrulha.

"O que é isso? Preparação para uma invasão ou apenas treinamentos militares? Poderíamos acreditar na segunda hipótese se não estivéssemos falando de um Estado soberano, cuja derrubada do regime é abertamente mencionada por altos oficiais norte-americanos como meta de política externa", pontuou Nebenzia.

Narrativa que não se sustenta

Para Moscou, os venezuelanos têm ''motivos concretos'' para acreditar que os norte-americanos tornarão suas ameaças em ações.

Nebenzia criticou a narrativa americana sobre a existência dos "místicos Cartéis do Sol", que supostamente estariam movimentando grandes quantidades de drogas para os Estados Unidos. Para ele, trata-se de um tema digno de filme blockbuster norte-americano, em que os EUA aparecem como heróis salvando o mundo, mas sem respaldo em fatos.

Citando dados oficiais, o diplomata observou que a maior parte da cocaína que chega aos Estados Unidos entra pelo Oceano Pacífico, área à qual a Venezuela não tem acesso.

"A Casa Branca pode, é claro, rejeitar os dados da ONU, mas os próprios relatórios oficiais do Departamento de Estado" não mencionam os "cartéis do sol", observou.

O diplomata apontou ainda que em relatórios norte-americanos, Caracas só começou a aparecer nas discussões oficiais sobre o tema há poucos meses, sugerindo, em tom irônico, que até então os propagandistas americanos sequer haviam identificado qualquer ameaça real.

''Princípio do faroeste''

O governo russo criticou duramente as ações dos Estados Unidos em alto mar, nas quais Washington executa toda a tripulação de determinadas embarcações. 

"Embarcações com pessoas foram simplesmente atacadas em alto mar, sem investigação ou julgamento, seguindo o princípio do faroeste de atirar primeiro. E agora, retroativamente, temos que acreditar que havia criminosos ali", afirmou a diplomacia russa, condenando essas violações graves da lei internacional.

Segundo Moscou, tais ações refletem a lógica do "excepcionalismo norte-americano", em que os EUA podem agir livremente enquanto outros países só podem fazer o que Washington permite.

Revolução colorida à vista?

A Rússia classificou essas medidas como parte de uma campanha aberta para pressionar, por meio de políticas e operações psicológicas, o governo de um país soberano, com o objetivo único de derrubar um governo que os EUA não aprovam.

Moscou comparou a operação às tradicionais "revoluções coloridas", que já causaram sofrimento a várias populações pelo mundo.