A Justiça da Argentina condenou nesta quarta-feira (8) o brasileiro Fernando Sabag Montiel a 10 anos de prisão e Brenda Uliarte a 8 anos, por considerá-los responsáveis pelo atentado que a ex-presidente Cristina Kirchner sofreu em 1º de setembro de 2022.
Após 15 meses de audiências com a participação de mais de 150 testemunhas, o único absolvido foi Nicolás Carrizo, chefe do grupo de vendedores ambulantes de algodão-doce no qual trabalhavam Sabag Montiel, de 37 anos, e Uliarte, de 25. A promotoria já havia considerado que ele não conhecia o plano para assassinar a ex-presidente.
"Eu queria matá-la e Brenda queria que ela morresse", confessou Sabag Montiel ao depor perante o tribunal, em uma sessão tensa na qual reconheceu que odiava a ex-presidente porque ela causava "dano à sociedade".
Anteriormente, o acusado admitiu que nunca havia sido violento com nenhuma mulher, "somente" com Kirchner. As conversas telefônicas que mantinha com Uliarte demonstraram o desprezo de ambos pela dirigente política, a quem se referiam com obscenidades.
Os advogados de Kirchner insistiram para que fossem investigados os supostos autores intelectuais do atentado, mas o tribunal rejeitou o pedido e Sabag Montiel e Uliarte ficaram como únicos responsáveis pela tentativa de homicídio. No dia em que depôs perante os juízes, a ex-presidente qualificou o processo como "um desastre total e absoluto".
O julgamento do caso
As audiências começaram em 24 de junho do ano passado com uma leitura detalhada do ocorrido às 20h50 do dia 1º de setembro de 2022 no bairro da Recoleta, na cidade de Buenos Aires, onde vivia Kirchner, que então era vice-presidente da Argentina. Todas as noites, milhares de pessoas compareciam para manifestar seu apoio a ela, em meio ao julgamento por corrupção que ela enfrentava.
"Fernando Sabag Montiel tentou assassinar Cristina Fernández de Kirchner. Ele esperou entre os militantes que se encontravam em frente à residência da vice-presidente para recebê-la e, quando ela se aproximou da multidão, disparou contra seu rosto com uma pistola semiautomática Bersa de calibre 32", declarou o secretário do tribunal durante o primeiro dia do julgamento.
"A bala, milagrosamente, não saiu. Enquanto Sabag Montiel tentava disparar novamente, os apoiadores o imobilizaram e o entregaram à polícia. A arma estava em bom estado e era apta para o disparo", recordou, ao afirmar que o homicídio não se concretizou apenas porque Montiel falhou ao acionar a corrediça que deveria dar passagem aos cinco cartuchos que se encontravam no carregador da pistola.
Com relação a Uliarte, explicou que ela também se encontrava nas imediações da casa da vice-presidente no momento do atentado e que depois se dirigiu à residência de um ex-namorado. As conversas entre os dois comprovaram que planejaram o crime juntos.
Em agosto passado, durante a reta final do julgamento, a promotoria solicitou uma pena de 15 anos de prisão para Sabag Montiel e de 14 para Uliarte, por considerá-los autor e colaborador do crime de homicídio triplamente qualificado, por ter sido perpetrado mediante violência de gênero (feminicídio) em sua modalidade de violência política e pelo emprego de uma arma de fogo em grau de tentativa.
Durante o processo, ambos enfrentaram julgamentos paralelos por outros crimes. Sabag Montiel foi condenado a quatro anos e três meses de prisão por posse e distribuição de material de exploração sexual de menores de 13 anos, enquanto Uliarte enfrentou uma pena de um ano de prisão pela posse ilegal de um documento de identidade.