"É sequestro!" Foi com essas palavras que Luana de Ávila, irmã do ativista brasileiro Thiago Ávila, definiu a ação militar israelense que resultou na interceptação da embarcação Alma, onde ele viajava com destino à Faixa de Gaza em missão humanitária.
Em entrevista exclusiva à RT nesta quinta-feira (2), ela denunciou a detenção do irmão como uma violação da legalidade internacional e da legislação brasileira.
Segundo ela, desde a operação, a família não tem qualquer notícia sobre Thiago, e nem mesmo a advogada responsável conseguiu contato.
"Quando alguém leva alguém forçadamente para outro lugar sem estar respaldado em alguma legislação, isso tem nome a depender da legislação criminal em cada país. E no nosso é sequestro", afirmou.
"Eles têm autorização para navegar, estão em águas internacionais, em missão humanitária, desarmada. Não existe um motivo para que eles sejam levados contra a sua vontade a outro lugar", explicou.
Sem contato e feriado como justificativa
A situação se agravou com a recusa das autoridades israelenses em permitir comunicação com os detidos. Luana relatou à RT que a advogada designada para o caso não obteve acesso a Thiago devido a um feriado local.
"A advogada disse que, como tem um feriado lá, eles usam a burocracia para não permitir que ela tenha contato também", explicou.
"Esse é o cenário mais desesperador, porque a gente sabe que a única fonte de notícia seria as pessoas contra quem ele está lutando, e isso não traz muita credibilidade, nem muita segurança mesmo".
Cerco naval e cortes de comunicação
A flotilha Global Sumud partiu com 44 embarcações. De acordo com levantamento da RT com base em dados do rastreador da Flotilha, a situação nesta quinta-feira (2) é a seguinte:
21 barcos foram confirmadamente interceptados
19 perderam completamente a comunicação e são considerados assumidamente interceptados
1 barco desapareceu completamente do radar
2 embarcações seguem ativas – uma delas já chegou a Gaza
Um barco chega a Gaza; outro segue
Apesar da operação israelense, o navio Mikeno (Al Bireh) conseguiu alcançar as águas próximas à cidade de Deir al-Balah, na Faixa de Gaza. Ele aparece parado em águas costeiras.
Outro barco, o Marinette (Safad), segue navegando em direção à costa a uma velocidade de 5,99 nós.
Já o Summertime – Jong (Al Shajarah), também ainda ativo, alterou sua rota e agora se afasta da Faixa de Gaza, navegando a 11,23 nós em direção ao nordeste.
São as únicas duas embarcações da missão que permanecem visivelmente em atividade até o momento.
Antes da série de interceptações, a coalizão humanitária denunciou a presença de dezenas de embarcações militares israelenses e afirmou que houve sabotagem deliberada nos sistemas de comunicação da flotilha.
"Danificaram intencionalmente as comunicações", dizia o comunicado, "numa tentativa de bloquear os sinais de socorro e impedir transmissões ao vivo".
Thiago e a causa palestina
Luana descreveu o irmão como uma pessoa profundamente comprometida com a causa palestina e afirmou que a exposição de Thiago não é casual, mas fruto de anos de envolvimento.
"Ele já visitou Gaza várias vezes antes dessa viagem. Muitas vezes. Ele fez um documentário sobre isso. Ele é um estudioso sobre o tema".
Luana avalia que, diante da exposição pública e das acusações direcionadas ao irmão, Thiago já se tornou um alvo marcado.
Segundo ela, isso aumenta o temor da família quanto à integridade dele, principalmente em um contexto de conflito, onde, como afirma, "nem todas as pessoas são adeptas a princípios de lealdade".
Ela diz que essa percepção se intensificou após a campanha de difamação que, segundo a família, teria sido usada para justificar a interceptação.
Israel rotula missão como "terrorista"
O governo israelense declarou que os barcos fazem parte do que chamou de "Hamas-Sumud Flotilha" e confirmou que os ocupantes foram levados a um porto sob controle militar.
As Forças de Defesa de Israel (IDF) divulgaram na terça-feira (30) documentos que apontariam que a Flotilha Global Sumud recebeu financiamento direto do Hamas.
"Greta e seus amigos estão seguros e saudáveis."
A ativista sueca Greta Thunberg também integra a missão, que tem declarado caráter humanitário e não violento. A flotilha busca romper simbolicamente o bloqueio marítimo imposto a Gaza e entregar ajuda médica e suprimentos.
A RT segue acompanhando os desdobramentos do cerco e a situação dos detidos, com atenção especial ao caso de Thiago Ávila e de outros brasileiros a bordo, cuja localização e condições seguem desconhecidas até o momento.