
Presidente da Fepal critica plano de paz dos EUA e alerta para 'despalestinização' de Gaza

O presidente da Federação Árabe Palestina do Brasil, Ualid Rabah, criticou o plano de paz apresentado na última segunda-feira (29) pela Casa Branca sobre o conflito na Faixa de Gaza.
Em entrevista à RT, Rabah afirmou que os pontos apresentados por Washington não mencionam pontos importantes sobre o futuro do enclave palestino como a governança local, a situação da Cisjordânia e a responsabilização pelos crimes cometidos nas ações de Israel.

No início da semana, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou um pacote de medidas que encerrariam o conflito. O documento, composto por 20 pontos, prevê o "fim imediato da guerra se ambos os lados concordarem".
A proposta estabelece a retirada das tropas israelenses e a suspensão das hostilidades em troca da libertação dos reféns, prevista para ocorrer em até 72 horas após a aceitação do acordo por Israel. Já o Hamas e outros grupos chamados de terroristas, pelo presidente dos EUA, se comprometeriam a não participar da administração do enclave tando de forma direta quanto indireta.
"Em primeiro lugar, não era necessário ter havido o maior extermínio de crianças da história (...) para nós chegarmos exatamente ao mesmo ponto que estávamos em outubro de 2023", afirmou Ualid Rabah, ressaltando que não está claro "quem responderá por esses crimes e quem pagará por essa reconstrução."
'Despalestinização' da Faixa de Gaza
Segundo o presidente da organização, o governo de Israel, juntamente com o apoio dos Estados Unidos, tenta 'despalestinizar' a Faixa de Gaza ao promover o extermínio de mulheres e crianças.
"De tempos em tempos, Gaza será esvaziada por mortes e por não-nascimentos. Nós estamos diante do colapso da capacidade reprodutiva da sociedade palestina em Gaza. E se isso for gestado por mais tempo, nós teremos seguramente o desaparecimento de 500 a 700 mil palestinos em Gaza", disse.
Ainda de acordo com Rabah, a iniciativa dos governos dos EUA e Israel de negociar a paz com o Hamas é "uma hipocrisia", já que ambos os países consideram o grupo como uma organização terrorista.
"Se o Hamas é uma organização terrorista, por que é com ela que se negocia? Por que é ela que deve aceitar isto ou aquilo outro? Isso é claramente instrumento oratório, instrumento político para obstaculizar qualquer solução para a Palestina", questionou.
'ONU não serve para lugar nenhum'
Rabah afirmou também que a ineficiência da Organização das Nações Unidas (ONU) diante de conflitos atuais faz com que muitos países busquem soluções próprias, já que a entidade não é mais "um instrumento de garantia do direito internacional".
Segundo ele, a ONU "só serve para algumas áreas do Ocidente, e olha lá, não serve para a Rússia, não serve para os povos eslavos, não serve para a África, não serve para o Oriente Médio, não serve para a Ásia, não serve para lugar nenhum".
Para o presidente da Fepal, a hegemonia do Ocidente está chegando ao fim graças ao seu uso da força para resolver questões geopolíticas. Rabah citou como exemplos os usos "da sabotagem, golpes de Estado e sanções".
"É um Ocidente rebelde ao direito internacional, rebelde aos princípios fundadores da ONU de nunca mais haver um genocídio, por exemplo."
Importância do reconhecimento da Palestina
Rabah reforçou a importância do reconhecimento do Estado da Palestina por parte de algumas nações durante a Assembleia Geral da ONU, mas alertou para o fato de que apenas o reconhecimento não resolve os problemas reais enfrentados na Faixa de Gaza.
"Reconhecer a Palestina e não mover uma palha pelo genocídio é a mesma coisa que reconhecer que está havendo um processo de extermínio por câmaras de gás e campos de concentração durante a Segunda Guerra Mundial e nada fazer para deter isso", afirmou.
Entenda as raízes históricas dos embates entre Israel e Palestina em nosso artigo.

