Talibã ordena corte de internet e telefonia no Afeganistão - Reuters

Conexão interrompida afeta bancos, voos e serviços de saúde, ONU pede restauração imediata.

O Talibã determinou o corte dos serviços de internet e telefonia móvel em todo o Afeganistão. A medida, relatada nesta terça-feira (30), deixou o país praticamente sem comunicação, impactando voos, bancos e serviços médicos.

O grupo não apresentou justificativa, e a Organização das Nações Unidas pediu a restauração total da conectividade, informou a Reuters citando fontes locais.

Nos últimos meses, autoridades já haviam bloqueado links de fibra óptica em algumas províncias, alegando preocupações com "moralidade" e conteúdos online. Agora, a interrupção reduziu a conectividade nacional a cerca de 1%, segundo a NetBlocks, organização internacional de monitoramento de internet.

Um provedor de telefonia, que preferiu não se identificar, afirmou à mídia local estar "seguindo as diretrizes das autoridades" e disse esperar a retomada dos serviços em breve. O canal privado Tolo News informou que o Talibã determinou a suspensão de redes 3G e 4G por uma semana, mantendo apenas a tecnologia 2G ativa.

O apagão digital afetou até o mercado financeiro: bancos privados e o Banco Central tiveram dificuldades de operação, e o câmbio em Cabul funcionava com base na cotação do dia anterior.

"As pessoas hoje dependem da tecnologia, é a principal forma de se manter conectado com o mundo exterior", disse Shabeer, funcionário de uma empresa de internet que teve o trabalho suspenso, à Reuters.

"Ninguém sabe da condição de seus familiares e, mesmo dentro do Afeganistão, não conseguimos nos comunicar".

Arafat Jamal, representante da agência da ONU para refugiados, afirmou à agência de notícias que o corte de comunicação impossibilitou o contato com equipes de ajuda, inclusive as envolvidas na resposta ao recente terremoto. "É mais uma crise em cima da crise existente", declarou.

Neste mês, mulheres foram impedidas de entrar em escritórios da ONU no país, além de já estarem banidas do ensino médio, universidades e de grande parte do mercado de trabalho.

Sanam Kabiri, ativista afegã de direitos das mulheres que vive fora do país, declarou à reportagem: "O Talibã está usando todas as ferramentas à sua disposição para reprimir o povo". Segundo ela, o bloqueio da internet também atinge mulheres que buscavam no trabalho remoto uma alternativa diante das proibições.