Presidente de Madagascar dissolve governo após protestos da 'geração Z' contra cortes de luz e água

Manifestações lideradas por jovens deixaram ao menos 22 mortos e mais de 100 feridos, segundo a ONU.

O presidente de Madagascar, Andry Rajoelina, anunciou nesta segunda-feira (29) a dissolução do governo depois de três dias de protestos em Antananarivo contra cortes de água e energia. Em alguns casos, as mobilizações tornaram-se violentas, deixando ao menos 22 pessoas mortas e mais de 100 feridas durante os confrontos, segundo o Escritório de Direitos Humanos da ONU

As manifestações, inspiradas em movimentos da chamada "geração Z" no Quênia e no Nepal, são as maiores registradas no país em anos e representam o desafio mais grave enfrentado por Rajoelina desde sua reeleição em 2023. Milhares marcharam pela capital pedindo a renúncia do presidente, muitos vestidos de preto e carregando cartazes.

"Pedimos desculpas"

Em discurso, Rajoelina reconheceu erros e pediu "desculpas" "se os membros do governo não cumpriram as tarefas que lhes foram atribuídas". Ele disse ainda compreender "a raiva, a tristeza e as dificuldades causadas pelos cortes de energia e pelos problemas de abastecimento de água".

O presidente informou que receberá indicações para o cargo de primeiro-ministro nos próximos três dias antes de formar um novo gabinete. Também prometeu abrir diálogo com os jovens e anunciou medidas de apoio a empresas afetadas por saques durante os protestos.

A repressão policial incluiu o uso de gás lacrimogêneo e balas de borracha, segundo testemunhas. A ONU atribuiu parte das mortes a uma "resposta violenta" das forças de segurança, enquanto outras ocorreram em meio a episódios de violência e saques por grupos não ligados aos manifestantes.

O Ministério das Relações Exteriores de Madagascar, porém, contestou os números divulgados pela ONU, classificando-os como "baseados em rumores ou desinformação", argumentando que não possuem origem em autoridades nacionais.

Entenda:

Na semana passada, as autoridades decretaram toque de recolher noturno, mas estudantes ainda se reuniram em universidades e tentaram marchar em direção ao centro da cidade, segundo a imprensa local. Os manifestantes chegaram a adotar bandeiras e símbolos usados em protestos no Nepal, além de estratégias de mobilização digital semelhantes às vistas no Quênia.