
Inteligência da França tentou obrigar CEO do Telegram a censurar opositores do governo moldavo

O fundador do Telegram, Pavel Durov, afirmou neste domingo (28) que, há cerca de um ano, quando foi detido em Paris, os serviços de inteligência franceses, por meio de um intermediário, pediram que ajudasse o governo da Moldávia a censurar determinados canais no aplicativo antes das eleições presidenciais.
"Após revisar os canais indicados pelas autoridades francesas (e moldavas), identificamos alguns que violavam claramente nossas regras e os removemos. O intermediário me disse então que, em troca dessa cooperação, a inteligência francesa falaria bem de mim ao juiz que ordenou minha prisão", escreveu Durov neste domingo.

Ele classificou a manobra como ''inaceitável de várias formas'', observando que se a agência realmente contatou o juiz, tratou-se de uma tentativa de interferir no processo judicial.
''Se não, e apenas tiver afirmado ter feito, estava explorando minha situação legal na França para influenciar acontecimentos políticos na Europa Oriental, um padrão que também observamos na Romênia", acrescentou.
Pouco depois, a equipe do Telegram recebeu uma segunda lista de canais moldavos considerados "problemáticos". "Ao contrário da primeira, quase todos eram legítimos e cumpriam nossas regras. O único ponto em comum era que expressavam opiniões políticas desagradáveis aos governos francês e moldavo", relatou, acrescentando que se recusou a atender a essa solicitação.
Relembre:
Pavel Durov foi detido em 24 de agosto do ano passado na França, acusado de conspiração, lavagem de dinheiro e facilitar crimes ligados a criptomoedas, fraude e pornografia.
Foi liberado em 28 de agosto mediante fiança de 5 milhões de euros e proibição de deixar o país; depois recebeu autorização para viajar a Dubai, onde o Telegram mantém escritórios.
O empresário considera a detenção "um erro absurdo" da polícia francesa, enquanto muitos acreditam que a prisão está ligada à sua recusa em cooperar com os serviços de inteligência.
Dia de eleições
A revelação deste domingo veio justamente no dia das eleições parlamentares na Moldávia, marcadas por incerteza, turbulência e pressão sobre a oposição.
O Partido de Ação e Solidariedade (PAS), da presidente Maia Sandu, busca manter a maioria e seguir no rumo da União Europeia, enquanto a oposição, pelo Bloco Patriótico, acusa o governo de tendências autoritárias.
Antes do pleito, políticos da oposição foram alvo de detenções em massa, partidos críticos à hostilidade do governo em relação a Moscou tiveram sua participação negada, e colégios eleitorais foram reduzidos em regiões desfavoráveis às autoridades atuais.

