'Alto consumo de carne' pode estar por trás do talento latino-americano no futebol, revela estudo

Os maiores ídolos do futebol nasceram em países onde a carne é acessível, o que ajuda a explicar, em parte, como puderam desenvolver seu talento no esporte, revelou um estudo divulgado nesta quinta-feira (25) pela Bloomberg.
A pesquisa, elaborada pela ONG argentina Red Nacional de Investigadores en Economía (RedNIE) e intitulada "Fazendo um Maradona: consumo de carne e destreza futebolística", analisou a semelhança entre os hábitos alimentares de diversos futebolistas.
As descobertas mostram que atletas como Diego Maradona e Lionel Messi, da Argentina, e os brasileiros Neymar e Pelé tiveram acesso à carne mesmo diante de limitações sociais, graças à elevada produção e consumo do alimento em seus países.
"As capacidades cognitivas se desenvolvem com consumo de proteínas", afirmou Martin Rossi, um dos autores do estudo, em entrevista.
Considerada pelos pesquisadores como um alimento de alta qualidade nutricional, o consumo de carne impacta diretamente as chamadas funções executivas, como memória de trabalho, flexibilidade cognitiva e controle inibitório, ligadas à criatividade e à tomada de decisões rápidas, habilidades decisivas dentro de campo.
O trabalho analisou dados da FAO sobre consumo de carne no ano 2000, comparando-os com jogadores indicados ao prêmio Bola de Ouro entre 2016 e 2019.
No período, 59 atletas de 25 países foram nomeados à premiação, com destaque para França (11), Brasil, Espanha, Portugal e Países Baixos (4 cada), além de Argentina, Alemanha, Inglaterra, Bélgica e Uruguai (3 cada). Entre eles, quase metade (47,46%) cresceu em famílias de baixa renda em países com alto consumo de carne, proporção muito acima do que seria esperado pelo acaso. Entre eles estão Lionel Messi (Argentina), Cristiano Ronaldo (Portugal), Neymar Jr. (Brasil), Luis Suárez (Uruguai) e Kylian Mbappé (França).
Explicação cultural?
Rossi minimizou a explicação cultural para o número de "craques", frequentemente associada à "paixão" pelo futebol. "Trabalhei dois anos para o governo de Malaui e viajei muito pela África. As crianças são tão fanáticas quanto nós... Mas não têm nenhum jogador entre os melhores", comparou. Entretanto, esclareceu que, junto com a a riqueza nacional e o tamanho do país, o interesse no esporte figura como um fator importante.
Os autores discutem que, com a nutrição correta e os fatores anteriores alcançados, ainda há de se direcionar o esforço e talento individual ao futebol. Assim, alegam que pessoas de lares pobres, por terem oportunidades restritas de estudo ou trabalho formal, seriam mais propensas a jogarem em espaços abertos e procurarem uma carreira no esporte. Segundo os pesquisadores, isso ajudaria a explicar por que tantos craques surgem de contextos de vulnerabilidade social.

