O ministro das Relações Exteriores Mauro Vieira afirmou nesta segunda-feira (22), em Nova York, que o Brasil acompanha "com preocupação" a presença de forças militares extrarregionais na América Latina e no Caribe.
O chanceler discursou na reunião de ministros da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC), realizada às margens da Semana de Alto Nível da Assembleia Geral da ONU.
''Em muitos sentidos, nossa região vive uma ressurgência do passado, de atitudes insolentes que remontam não só ao século XX como ao século XIX. Quando se trata do uso da força, não concordamos com a erosão da distinção entre combatentes e civis'', declarou Vieira, alertando que a conduta ''poderia levar a que qualquer alvo seja julgado legítimo em ações militares'', em flagrante violação da Carta da ONU.
"Não podemos admitir intervenções externas, sob nenhum pretexto. Permitir medidas de intimidação, sem nenhuma reação coletiva, seria um convite permanente a novas ingerências", afirmou Vieira.
A declaração do chanceler ocorre em meio às operações militares dos EUA, que destruíram embarcações venezuelanas alegando que se tratavam de narcotraficantes. Washington também pressionou, sem sucesso, o Brasil a classificar suas facções criminosas como grupos terroristas, ampliando as opções militares contra elas.
Busca por protagonismo:
Vieira defendeu ainda o fortalecimento da CELAC como mecanismo central de cooperação, com foco em temas como combate à fome, redução da pobreza, desenvolvimento sustentável e integração regional. Ele sugeriu a criação de um grupo de trabalho para acompanhar o diálogo da organização com outros blocos e países, atribuindo a essas iniciativas um "sentido estratégico".
O chanceler também declarou apoio à escolha de um latino-americano ou caribenho para ocupar o cargo de secretário-geral das Nações Unidas, cuja eleição ocorrerá em 2026. Atualmente, a função é exercida pelo português António Guterres.
Nos últimos dias, o presidente venezuelano Nicolás Maduro enviou uma carta a Donald Trump comprovando, com mapas e dados científicos validados por organismos internacionais, a inconsistência em posicionar a Venezuela no centro da política antidrogas norte-americana.
- Para Maduro, as acusações de narcotráfico contra seu país são "tão grosseira e falaciosa quanto a de que o Iraque tinha armas de destruição em massa".