O conflito entre o Estado de Israel e os palestinos é resultado de um projeto colonial que promoveu a migração judaica europeia para a Palestina, culminando na expulsão e na marginalização de comunidades árabes-palestinas locais.
O sionismo –, que foi a base teórica desse projeto colonial –, ao se consolidar no Estado de Israel, privilegiou uma identidade étnico-religiosa exclusivamente judaica em detrimento da diversidade histórica dos povos originários da região.
Quem são os judeus?
De acordo com a historiografia, o povo judeu tem origem na Antiguidade, originário dos hebreus que se estabeleceram na região da Palestina, entre Canaã e Jerusalém, sua identidade foi construída a partir de tradições religiosas, textos como a Torá e experiências históricas de diáspora e perseguições.
Esse processo consolidou uma cultura marcada pela preservação da fé judaica e pela forte noção de pertencimento comunitário.
De acordo com a religião judaica, os judeus são os descendentes do povo de Israel, herdeiros da aliança estabelecida entre Deus e os patriarcas Abraão, Isaac e Jacó. A identidade judaica está ligada tanto à linhagem materna quanto à conversão religiosa, sempre em conformidade com a lei judaica (Halachá).
Ser judeu, de acordo com a religião judaica, significa pertencer a uma comunidade de fé, tradição e práticas religiosas que atravessam gerações.
As grandes diásporas judaicas
A primeira diáspora dos judeus ocorreu após a conquista de Jerusalém por Nabucodonosor II, em 586 a.C., quando elites políticas, religiosas e parte da população de Judá foram deportadas para a Babilônia. Esse deslocamento forçado não extinguiu a comunidade, mas a reorganizou em território estrangeiro. A experiência consolidou práticas religiosas que permitiram a preservação da identidade judaica mesmo sem o Templo.
A segunda diáspora judaica teve início em 70 d.C., após a destruição do Segundo Templo de Jerusalém pelas legiões romanas. A repressão aos levantes judaicos levou à dispersão em massa para regiões do Mediterrâneo, Norte da África e Oriente Médio. Esse processo ampliou a presença judaica na diáspora e reduziu drasticamente sua concentração na antiga Judéia.
Quem habitava a região da atual Palestina à altura da segunda diáspora judaica?
Antes da segunda diáspora judaica, a região onde hoje é a Palestina era habitada por uma diversidade de povos. Entre eles estavam os cananeus, semitas que viviam em cidades-Estado desde a Idade do Bronze, e os filisteus, vindos do mar Egeu no século XII a.C., estabelecendo-se principalmente na costa. Também estavam presentes os israelitas, organizados nos reinos de Israel e Judá, além de arameus, fenícios e outros grupos de origem mesopotâmica. Essa diversidade tornou a região um espaço de intensa troca cultural e conflitos ao longo dos séculos.
"A terra prometida"
O conceito de "terra prometida" no Antigo Testamento reflete uma construção religiosa e política que legitima a posse territorial dos israelitas como um direito divino. Essa ideia, baseada em narrativas como a aliança entre Deus e Abraão, reforça uma visão exclusiva de pertencimento ligada à fé e à linhagem.
Sionismo e o conceito de "terra prometida"
O uso do conceito de "terra prometida" foi a base ideológica para justificar a criação do Estado de Israel e a expansão territorial em detrimento dos palestinos. O sionismo transformou uma promessa religiosa em um projeto político nacionalista, ignorando a complexidade histórica da região.
Judeus anti-sionistas entendem que isso distorce a tradição judaica, que originalmente valorizava justiça e coexistência. Por isso, enxergam no vínculo religioso uma instrumentalização política problemática.
O que é o Sionismo?
O sionismo surgiu no final do século XIX como movimento nacionalista judeu, criado por Theodor Herzl, em reação ao antissemitismo na Europa e à exclusão política dos judeus.
Ele propôs, durante o Congresso Sionista em 1897, a criação de um Estado judeu na Palestina como solução para a questão judaica.
O projeto se baseou na interpretação política de textos religiosos que apontavam para um retorno à "terra ancestral".
Suas origens estão ligadas ao contexto histórico da Europa, marcado por nacionalismos e reorganizações políticas. O movimento buscou articular identidade coletiva dos judeus europeus por meio da criação de um Estado na Palestina.
Desde sua fundação, gerou divisões internas, inclusive entre judeus, sobre suas consequências. O sionismo tornou-se, assim, um projeto com impactos políticos e sociais que permanecem objeto de controvérsia.
Quem são os palestinos?
Os palestinos são um povo cuja identidade moderna se formou principalmente entre os séculos XIX e XX, resultado de milênios de presença contínua na Palestina.
É um povo que descende de uma mistura histórica que inclui cananeus, filisteus, árabes, judeus e outros povos que habitaram a região desde a antiguidade.
Sua identidade reflete vínculos profundos com a terra, construídos por meio de tradições, línguas e memória coletiva. Essa ligação é central na compreensão da luta palestina por reconhecimento e autodeterminação.
Durante o período do Império Turco-Otomano (séculos XVI a início do XX), a Palestina era habitada por comunidades majoritariamente árabes que viviam em vilarejos e cidades, sustentadas pela agricultura, comércio local e estruturas comunitárias.
Essa organização garantia certa autonomia e preservação cultural diante das pressões externas. O fim desse período trouxe mudanças impostas pelo colonialismo europeu, alterando profundamente a vida palestina. Esse processo marca o início de desafios que ainda definem a história da Palestina hoje.
O Mandato Britânico da Palestina
Estabelecido em 1920 pela Liga das Nações, o Mandato Britânico da Palestina tinha como objetivo administrar a região após o colapso do Império Otomano.
Oficialmente, deveria preparar o território para a independência palestina, mas tornou-se palco de tensões crescentes entre comunidades árabes e imigrantes judeus. As promessas britânicas, incluindo a Declaração Balfour de 1917, favoreceram a criação de um lar nacional judeu, gerando conflitos com a população árabe local. Esse período marcou o início de profundas transformações demográficas e políticas na Palestina.
A imigração judaica foi estimulada pelo governo britânico como estratégia política para assegurar influência na região e garantir acesso a recursos estratégicos.
Ao mesmo tempo, líderes sionistas trabalharam em estreita relação com instituições financeiras, incluindo a Casa Rothschild, para financiar assentamentos e infraestrutura.
Esse apoio financeiro e político facilitou o crescimento de comunidades judaicas, alterando o equilíbrio populacional.
O Mandato Britânico, portanto, aprofundou divisões e conflitos, ao apoiar políticas que favoreceram o projeto sionista em detrimento da autodeterminação palestina.
As promessas não cumpridas aos árabes-palestinos aumentaram o ressentimento e impulsionaram movimentos de resistência.
A aliança entre britânicos, banqueiros e líderes sionistas fortaleceu a presença judaica, criando bases para a criação do Estado de Israel.
Nazismo e a ampliação da emigração de judeus à Palestina
Durante o período nazista (1933–1945), milhões de judeus na Europa sofreram perseguições, restrições e, posteriormente, o genocídio sistemático conhecido como Holocausto.
Esse contexto provocou um aumento significativo da emigração judaica, incluindo para a Palestina, considerada por parte das lideranças sionistas como um refúgio e base para a construção de um Estado. No entanto, o número de imigrantes foi limitado pelo controle britânico durante o mandato, gerando tensões e ações clandestinas.
Alguns documentos e estudos apontam que certas lideranças sionistas mantiveram contatos pragmáticos com autoridades nazistas, visando facilitar a saída de judeus da Alemanha para a Palestina.
Esses acordos, como o chamado "Acordo Haavara" de 1933, permitiram a transferência de parte do capital judaico para a Palestina em troca da emigração de judeus alemães. Esse episódio é objeto de controvérsia histórica, pois envolve negociações com um regime responsável pela posterior perseguição ao povo judeu.
Para muitos palestinos, a imigração judaica desse período intensificou a pressão sobre a população local, aumentando conflitos territoriais e sociais. As lideranças sionistas aproveitaram o sofrimento judaico para reforçar sua narrativa de necessidade de um Estado próprio.
Essa dinâmica aprofundou divisões, estabelecendo padrões que moldariam o conflito árabe-israelense nas décadas seguintes. O período nazista permanece como um capítulo complexo, marcado por tragédia e disputas históricas sobre memória e responsabilidade.
Irgun, Lehi e Haganah
Durante o Mandato Britânico, grupos paramilitares judeus como Haganah, Irgun e Lehi assumiram papéis importantes na luta pela criação de um Estado de Israel.
A Haganah organizava defesa das comunidades judaicas e facilitava a imigração clandestina, mantendo relativa disciplina. Já o Irgun e o Lehi (esse conhecido com "Stern Gang") eram milícias paramilitares terroristas, adotando métodos mais radicais, incluindo atentados contra autoridades britânicas, como o ataque ao Hotel King David em 1946, considerado um ato terrorista, visando pressionar o fim do controle britânico.
Essas ações aumentaram a violência e aprofundaram o conflito na região.
Os ataques, embora justificados por esses grupos como resistência ao colonialismo e à restrição da imigração judaica, geraram ampla condenação internacional.
O atentado terrorista ao Hotel King David , em Jerusalém, resultou em quase uma centena de mortos, e dezenas de feridos graves,a maior parte civis, provocando reação severa das autoridades britânicas.
A estratégia violenta dividiu o movimento sionista, enquanto intensificava a repressão britânica e agravava a tensão com a população árabe. Esses episódios marcaram decisivamente o fim do Mandato e o caminho para a criação de Israel.
A fundação do Estado judeu e a "catásfrofe" palestina
A Resolução 181 da Assembleia Geral da ONU, aprovada em 29 de novembro de 1947, determinou a partilha da Palestina em dois Estados, um judeu e outro árabe, além de uma área internacional em Jerusalém.
O plano destinou cerca de 55% do território à população judaica, que representava aproximadamente um terço da população total e possuía menos de 10% das terras.
Para os palestinos, essa divisão foi considerada injusta, pois não houve consulta ampla e sua população perderia grande parte do território histórico.
A aprovação da resolução gerou oposição árabe imediata, considerada pelos palestinos como uma imposição externa. A resistência cresceu diante da percepção de perda territorial e expulsão forçada.
Em maio de 1948, com a declaração de independência de Israel, teve início a Nakba, quando cerca de 700 mil palestinos foram expulsos de suas casas. Vilarejos foram destruídos e campos de refugiados foram formados em países vizinhos, como Jordânia, Líbano e Síria.
Primeira Guerra Árabe-Israelense
Em maio de 1948, logo após a declaração de independência de Israel, começou a Primeira Guerra Árabe-Israelense quando forças de países da Liga Árabe entraram na Palestina com o objetivo de apoiar a população palestina expulsa e contestar a criação do novo Estado.
As ações da Liga foram mal coordenadas, com falta de entusiasmo e organização, enquanto Israel recebeu grande apoio financeiro dos Estados Unidos para renovar seu armamento. Após oito meses de combate, foi estabelecido um cessar-fogo mediado pela ONU, que definiu uma fronteira temporária conhecida como Linha Verde.
O conflito acelerou a expulsão de centenas de milhares de palestinos, que se estabeleceram em campos na Jordânia, Líbano, Síria e na Faixa de Gaza.
Diversos vilarejos palestinos foram destruídos ou abandonados durante os combates, impedindo o retorno de suas populações. A guerra estabeleceu novas fronteiras e aprofundou a divisão entre israelenses e palestinos.
Nesse contexto, surgiram os nomes Cisjordânia — controlada pela Jordânia — e Jerusalém Oriental, enquanto a Faixa de Gaza ficou sob controle egípcio. Israel passou a controlar cerca de 78% do território da Palestina original.
Em 1949, Israel tornou-se membro da ONU, enquanto os palestinos continuavam sem direito a um Estado. Ampliou-se ainda a migração de sobreviventes do Holocausto e outros judeus para o país.
O início da resistência palestina
Embriões do que seria a resistência palestina de uma forma mais organizada surgiram logo após a Nakba.
A partir da década de 1950, surgiram as primeiras lideranças nacionalistas laicas, articulando a luta pela autodeterminação e pelo retorno. Essas lideranças buscavam consolidar uma identidade palestina distinta, baseada na causa nacional e não em divisões religiosas.
Entre as primeiras organizações destacam-se a Frente Popular para a Libertação da Palestina (FPLP) e a Organização para a Libertação da Palestina (OLP), fundada em 1964.
Essas entidades passaram a coordenar ações políticas e militares, buscando visibilidade internacional para a causa palestina. A resistência organizada incluía mobilizações diplomáticas e ações armadas, sempre com o objetivo central de contestar a ocupação e garantir o direito de retorno. Esse período marcou o fortalecimento do nacionalismo palestino como movimento estruturado.
Guerra de Suez, a segunda guerra árabe-israelense
O Canal de Suez, construído em 1869 no Egito para criar uma rota direta entre o Mar Vermelho e o Mediterrâneo, foi um projeto de alto custo para o país árabe. Por isso, o controle do canal permaneceu com o Reino Unido e a França, tornando-se símbolo do domínio colonial sobre a região. Naquele período, cerca de um quarto das importações britânicas, incluindo petróleo, passava por ali.
Em 26 de julho de 1956, o líder egípcio Gamal Abdel Nasser nacionalizou o canal, com o objetivo de reduzir a influência estrangeira e obter recursos para outro projeto estrutural: a construção da Grande Represa de Assuã.
Em 1950, França, Reino Unido e Estados Unidos firmaram a Declaração Tripartite, proibindo a venda de armas aos países do Oriente Médio para evitar a escalada da corrida armamentista. Mesmo assim, no início da década, a França vendeu armas a Israel, enquanto o Egito tentou adquirir armamentos, mas enfrentou recusas do Ocidente e acabou comprando da Tchecoslováquia, aliada da União Soviética.
França e Reino Unido queriam derrubar Nasser e impor controle internacional sobre o canal, mas a União Soviética vetou essa iniciativa. Em 29 de outubro de 1956, o exército israelense invadiu a Península do Sinai, derrotou as tropas egípcias e avançou em direção ao Canal de Suez. Em poucos dias, as forças israelenses ocuparam toda a região do Sinai. Os aliados britânicos e franceses também iniciaram ataques contra pontos estratégicos.
As potências ocidentais acreditavam que a União Soviética, ocupada com seus próprios problemas, não interviria. No entanto, o líder soviético Nikita Khrushchev, por meio do marechal Bulganin, ameaçou usar armas caso a ofensiva contra o Egito continuasse. Diante disso, Israel retirou suas tropas do território, e os Estados Unidos pressionaram Reino Unido e França a recuarem.
A crise marcou o fim da hegemonia britânica na região e abriu caminho para a ampliação da influência dos Estados Unidos no Oriente Médio.
A Guerra dos Seis Dias
Os conflitos permaneciam pontuais, com as forças israelenses realizando ataques ocasionais e ocorrendo ofensivas locais de ambos os lados. Nesse contexto, o representante do Ministério das Relações Exteriores da União Soviética, Vladimir Semenov, informou ao presidente da Assembleia Nacional do Egito, Anwar Sadat, que Israel havia deslocado dez brigadas para a fronteira com a Síria. Considerando as tensões constantes, isso foi interpretado como um sinal de guerra iminente. Mais tarde, verificou-se que a informação era falsa.
Nasser, enfraquecido politicamente e sem desejo de confronto direto, decidiu agir. Em 18 de maio de 1967, as tropas da ONU foram retiradas de Sharm el-Sheikh e, em 22 de maio, o Egito assumiu o controle do Estreito de Tiran, declarando bloqueio à navegação israelense até o porto de Eilat. Israel considerou isso um casus belli (razão para guerra). Há interpretações de que Nasser não pretendia de fato entrar em guerra, mas buscava a intervenção dos Estados Unidos para negociar um acordo com Israel.
Israel, no entanto, tratou a situação como ameaça iminente e lançou um ataque preventivo na madrugada de 5 de junho. Em poucas horas, destruiu a força aérea egípcia, o que foi decisivo para o curso da guerra.
Até 9 de julho, Israel havia conquistado territórios estratégicos, incluindo Cisjordânia, Faixa de Gaza, Península do Sinai e Colinas de Golã. O governo soviético reagiu, ameaçando intervir caso Israel continuasse avançando sobre a Síria. Os Estados Unidos, informados pelos soviéticos, pressionaram Israel a parar. O conflito chegou ao fim.
Apesar da Resolução 242, aprovada pelo Conselho de Segurança da ONU, que exigia a retirada israelense dos territórios conquistados, Israel manteve o controle sobre essas áreas alegando razões de segurança. Com isso, cerca de 75% da Palestina histórica permaneceu sob domínio israelense.
Mais de 1 milhão de árabes passaram a viver em território controlado por Israel, sem cidadania plena e com direitos inferiores aos dos israelenses judeus.
A guerra alterou o equilíbrio regional em favor de Israel. Os países árabes não conseguiram articular uma frente unida contra o inimigo comum, o que levou ao surgimento de novas formas de resistência. Foi nesse contexto que Ariel Sharon, futuro primeiro-ministro de Israel, ganhou destaque como comandante militar.
Guerra do Yom Kippur
Apesar do fim da Guerra dos Seis Dias, o conflito entre Egito e Israel prosseguiu, com ataques egípcios contra posições israelenses no Sinai e represálias israelenses por meio de artilharia. Esse período ficou conhecido como Guerra de Atrito, entre 1969 e 1970.
A União Soviética forneceu grande quantidade de armamentos ao Egito, enquanto Israel infligia baixas pesadas. Ao mesmo tempo, a questão palestina se agravava com o deslocamento de refugiados para a Jordânia, culminando no episódio conhecido como "Setembro Negro", em 1970.
Com a morte de Nasser, em 1970, Anwar el-Sadat assumiu o governo egípcio, afastando-se da URSS e aproximando-se do Ocidente, gerando desconfiança tanto em Israel quanto nos soviéticos. Sadat buscava um acordo com Israel, mas também se preparava para a guerra, expulsando técnicos soviéticos.
Em 1973, lançou ataques contra o Sinai e a Síria, às vésperas do Yom Kippur, para pressionar Israel a negociar. O exército israelense resistiu em frentes como a Linha Bar-Lev e as Colinas de Golã.
O conflito resultou em grandes perdas para ambos os lados, com URSS e EUA fornecendo armamentos a seus aliados. Após três semanas de combates intensos, as superpotências intervieram por um cessar-fogo.
Em janeiro de 1974, foi assinado um acordo entre Egito e Israel, monitorado pela ONU.
As perdas israelenses foram expressivas: 2.838 mortos e 8.800 feridos. Embora militarmente Israel tenha mantido posições, a ofensiva árabe inicial e as baixas destruíram a percepção de invencibilidade do exército israelense. Internamente, a guerra gerou descontentamento, fortalecendo a oposição de direita.
O primeiro-ministro Yitzhak Rabin passou a considerar a devolução do Sinai ao Egito, mesmo sob receio de demonstrar fraqueza.
O conflito também contribuiu para a guerra civil no Líbano (1975) e distanciou o Egito do pan-arabismo, se aproximando dos EUA, e levando aos Acordos de Camp David.
As tentativas de solução pacífica
As crises do petróleo levaram as superpotências a promover negociações de paz no Oriente Médio. O Tratado de Camp David, assinado em 1978 e ratificado em 1979, foi o primeiro acordo entre Israel e um país árabe, o Egito.
Mediado pelos EUA, previa a retirada israelense do Sinai até 1982 e o estabelecimento de relações diplomáticas. Outros países árabes rejeitaram o acordo, e o Egito foi expulso da Liga Árabe. A questão palestina, central para o conflito, continuou sem solução.
Na década de 1990, a busca por um acordo parecia avançar. A Conferência de Paz de Madri (1991), após a Guerra Fria e a Guerra do Golfo, incentivou negociações entre Israel e países árabes, incluindo os palestinos. Em 1992, a vitória da centro-esquerda em Israel favoreceu o diálogo.
Em 1993, o Acordo de Oslo I foi assinado por Yasser Arafat e Yitzhak Rabin, com reconhecimento mútuo entre Israel e a OLP. O pacto previa autonomia limitada para os palestinos em Gaza e Jericó e a criação da Autoridade Palestina (AP).
O Acordo de Oslo II, em 1995, dividiu a Cisjordânia em três zonas (A, B e C), com diferentes níveis de controle. Mas o processo de paz estagnou após o assassinato de Rabin, em 1995.
Em 1996, Benjamin Netanyahu assumiu o governo, desacelerando as negociações, suspendendo retiradas e retomando a construção de colônias em territórios ocupados. A esperança inicial deu lugar à frustração.
Em 1998, sob pressão dos EUA, Israel e a Autoridade Palestina assinaram o Acordo de Wye Plantation, que previa novas retiradas israelenses da Cisjordânia e maior autonomia palestina. O acordo, no entanto, não foi cumprido.
A questão de Jerusalém permaneceu o maior impasse, reivindicada por ambos os lados. A presença da Esplanada das Mesquitas e do Muro das Lamentações tornou o tema inegociável.
As Intifadas
A Primeira Intifada teve início em dezembro de 1987, como revolta popular espontânea contra a ocupação israelense na Faixa de Gaza e Cisjordânia. Sem armas, palestinos, sobretudo jovens, enfrentavam soldados fortemente armados com pedras.
A repressão resultou em mais de mil palestinos mortos e causou impacto internacional. A OLP teve participação reduzida no início, enquanto o Hamas ganhava espaço. A revolta durou até 1993, quando foi interrompida pelos Acordos de Oslo.
A Segunda Intifada, em setembro de 2000, teve início após a visita de Ariel Sharon à Esplanada das Mesquitas, considerada provocativa pelos palestinos. Diferente da primeira, foi marcada por atentados e confrontos armados, com forte repressão israelense.
O processo de paz foi suspenso, e Sharon, eleito primeiro-ministro, comandou incursões militares na Cisjordânia, culminando na Operação Muro Protetor (2002), que destruiu áreas como o campo de refugiados de Jenin, acusado de massacre.
A Segunda Intifada marcou o fracasso definitivo dos acordos dos anos 1990 e consolidou o controle israelense sobre os territórios palestinos, enfraquecendo a Autoridade Palestina.
Século XXI
Em 2002, a Liga Árabe propôs paz e reconhecimento de Israel em troca da retirada dos territórios ocupados e da criação de um Estado palestino com capital em Jerusalém Oriental. Israel rejeitou.
No mesmo ano, Israel iniciou a construção da Barreira de Separação na Cisjordânia, considerada ilegal pela Corte Internacional de Justiça. A obra impactou vilarejos palestinos, que responderam com resistência pacífica, apoiada por ativistas israelenses e estrangeiros.
O presidente norte-americano George W. Bush propôs a criação de um Estado palestino ao lado de Israel, no chamado "Road Map", supervisionado pelo Quarteto (EUA, ONU, União Europeia e Rússia). O plano previa reformas palestinas e congelamento de assentamentos israelenses. Israel apresentou 14 objeções, e os avanços foram bloqueados pela escalada da violência.
Em 2004, o premiê Ariel Sharon anunciou a retirada unilateral da Faixa de Gaza, com apoio dos EUA. Israel deixou Gaza em 2005, mas manteve controle do território. Em 2006, o Hamas venceu democraticamente as eleições parlamentares e, após disputa política com o Fatah, passou a governar Gaza em 2007. Israel impôs bloqueio à região e lançou ofensivas militares.
Em 2012, a Palestina foi reconhecida pela ONU como Estado observador. Em 2016, a Resolução 2334 do Conselho de Segurança declarou ilegais os assentamentos israelenses.
Em 2017, os EUA reconheceram Jerusalém como capital de Israel, provocando protestos. Entre 2018 e 2023, confrontos, bombardeios e ataques de foguetes resultaram em milhares de vítimas, sobretudo palestinas.
Em 2022, aumentaram os ataques e as operações militares israelenses. Netanyahu voltou ao poder com uma coalizão de direita.
Em 7 de outubro de 2023, o Hamas lançou uma operação surpresa contra Israel, a maior desde a Guerra do Yom Kippur. O conflito se insere também em um cenário de disputa global entre China e EUA, refletida na disputa entre a Nova Rota da Seda chinesa e o Corredor Econômico Índia–Médio Oriente–Europa, que exclui o Irã, apoiador do Hamas.
Apesar de pedidos internacionais de paz, a Autoridade Nacional Palestina não controla o Hamas, dificultando as negociações. A participação indireta de países como Irã e Egito pode influenciar o futuro do conflito.
Falhas nos serviços de inteligência israelenses foram apontadas, mas também há hipóteses de que o governo tenha permitido o ataque para consolidar apoio interno e justificar novas ações militares. Israel ampliou operações contra Gaza e mantém aberta a possibilidade de expansão territorial, como em guerras anteriores.
Até 2025, cessar-fogos foram estabelecidos e repetidamente rompidos.