Em carta aberta a Trump, Lula defende diálogo, mas diz que 'democracia e soberania' são inegociáveis

O presidente brasileiro acusou Washigton de ''virar as costas em relação com mais de 200 anos''.

Em uma carta aberta ao presidente Donald Trump publicada neste domingo (14) no jornal The New York Times, Luiz Inácio Lula da Silva, mandatário brasileiro, sinalizou a disposição de seu país ao diálogo, mas enfatizou que ''a democracia e a soberania não estão na mesa de negociações''.

Hipocrisia?

Lula abre o documento dizendo ter analisado as razões de Trump para impor seu tarifaço ao Brasil. Para ele, a medida mostra que o país estava certo ao alertar, no início do século, contra os valores pregados pelos EUA através do chamado ''Consenso de Washington'', já que o próprio governo norte-americano acabou enterrando esse modelo.

''Ver a Casa Branca finalmente reconhecer os limites do chamado Consenso de Washington — uma receita de políticas marcada por mínima proteção social, liberalização comercial irrestrita e desregulamentação geral, dominante desde os anos 1990 — significou a validação da posição brasileira''.

O presidente ressaltou, no entanto, que medidas unilaterais são ''o remédio errado'', defendendo o multilateralismo como alternativa ''mais justa e equilibrada''. Ele classificou as tarifas contra o Brasil como ''equivocadas e ilógicas'', ao lembrar que o país registra déficit comercial com os Estados Unidos e que 75% das exportações americanas entram no mercado brasileiro sem tarifas.

''Decisão política''

O presidente concluiu que ''a decisão da Casa Branca é política'' e acusou o governo Trump de agir ''em busca de impunidade para o ex-presidente Jair Bolsonaro, que orquestrou a tentativa de golpe de 8 de janeiro de 2023, ao tentar subverter a vontade popular expressa nas urnas''.

Nesse contexto, Lula saiu em defesa da soberania das decisões do Supremo Tribunal Federal e destacou áreas que foram alvo direto do governo Trump, como a regulação das redes sociais e o sistema de pagamentos Pix:

"O Pix, promoveu a inclusão financeira de milhões de cidadãos e empresas. Não podemos ser penalizados por criar um mecanismo rápido, gratuito e seguro, que facilita as transações e estimula a economia".

Quanto à regulação das redes sociais, negou que a medida configure ''censura'', afirmando que o objetivo é a ''proteção de nossas famílias contra fraudes, desinformação e discurso de ódio'':

''A internet não pode ser uma terra sem lei onde pedófilos e abusadores têm liberdade para atacar nossas crianças e adolescentes''.

Soberania inegociável:

O mandatário brasileiro encerra a carta acusando o governo Trump de ''virar as costas para uma relação de mais de 200 anos'' e faz um apelo ao diálogo, ressaltando que diferenças ideológicas não deveriam impedir a cooperação em áreas de interesse comum.

"Continuamos abertos a negociar qualquer medida que traga benefícios mútuos. Mas a democracia e a soberania do Brasil não estão em negociação".

"É assim que vejo a relação entre Brasil e Estados Unidos: duas grandes nações capazes de se respeitar e cooperar para o bem dos brasileiros e dos norte-americanos", concluiu.