Advertência militar dos EUA é 'preocupante', mas não altera julgamento de Bolsonaro, diz Amorim

O alto diplomata também comentou o incidente com drones na Polônia e as ameaças contra a Venezuela; confira:

Celso Amorim, assessor especial da presidência do República, classificou a declaração do governo Trump, que sinalizou disposição em usar seu ''poderio militar'' contra o Brasil, como ''extremamente preocupante'', afirmando que a postura não estabelece um ambiente propício para o diálogo entre as nações.

Na terça-feira (9), a porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, afirmou que o governo Trump está preparado para recorrer ao uso da força militar com o objetivo de "proteger a liberdade de expressão globalmente", em resposta a uma possível condenação de Jair Bolsonaro no Supremo Tribunal Federal (STF).

Em entrevista exclusiva à GloboNews publicada nesta quinta-feira (11), Amorim considerou as afirmações como uma tentativa ineficaz de exercer pressão sobre o Judiciário brasileiro.

"Qualquer tentativa é inútil, porque eu acho que o Supremo agirá com independência. Agora, a ligação existe. Foi em resposta a uma pergunta sobre o julgamento. A pergunta era sobre o julgamento e ela respondeu com essas hipóteses absolutamente fora da diplomacia", disse Amorim.

Além disso, o assessor reafirmou que o Brasil busca valorizar a colaboração militar com a China e outras potências, enviando um adido do exército de nível de general ao gigante asiático, o que antes só tinham nos Estados Unidos.

Nesse sentido, tachou as ameaças americanas contra a Venezuela como inadmissíveis e violatórias ao Direito Internacional, e também opinou que a situação tensa na Europa Oriental causa preocupação.

Relações entre Rússia e o Ocidente

Na quarta-feira (10), a Polônia acusou a Rússia de ter entrado em seu espaço aéreo com drones e invocou o Artigo 4 do tratado da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), que estabelece que podem ser iniciadas discussões para considerar uma resposta coletiva.

"Não quero fazer juízo de valor, mas eu acho que tudo isso cria uma crise direta entre a Otan e a Rússia. É algo muito preocupante. Nós vivemos num mundo em que há um nevoeiro, que tem que ser muito atento à paz. Por isso o Brasil propôs, junto com a China, um roteiro para poder haver uma discussão", disse Amorim.

"O diálogo, que tem que ser fomentado, é complexo, difícil, não é uma coisa que dependa de um ou dois países. Os Estados Unidos têm influência, mas a China também tem, os BRICS também têm", completou.

Amorim acredita que o mundo vive o momento mais delicado desde o final da Segunda Guerra Mundial, inclusive mais perigoso do que a Crise dos Mísseis em Cuba em 1962.

"Vivemos em um mundo muito perigoso. Nunca vi nada como estou vendo agora. Você tem dois conflitos se agravando [no Oriente Médio e no leste europeu], dois conflitos com possibilidade de se transformar numa guerra global, inclusive se tiver uma maneira de misturar os dois. Isso não é uma coisa impensável", disse Amorim.

"É indesejável, mas não é impensável, então temos de trabalhar pela paz, e trabalhar ativamente", completou.