O Nepal foi abalado pela sua mais grave crise política dos últimos anos. O que começou com uma tentativa repentina do governo de proibir as principais redes sociais rapidamente se transformou em distúrbios em massa.
Os jovens saíram às ruas indignados não apenas com a perda de seu meio de comunicação digital, mas também com a corrupção, o desemprego e um sistema político que consideram esgotado.
Os protestos se transformaram em violência: prédios do governo e a residência do primeiro-ministro foram incendiados, dezenas de pessoas morreram e, no final, o próprio primeiro-ministro foi forçado a renunciar.
Para entender tal fenômeno, a RT reuniu avaliações de analistas políticos, acadêmicos e especialistas sobre a região que analisaram a crise sob diferentes ângulos: os problemas do sistema político do Nepal, o papel da juventude, as falhas do governo e a influência externa, traçando o quadro de um país que se encontra em uma encruzilhada perigosa.
Principais motivos da insatisfação popular
O especialista Boris Volkonsky acredita que a abolição da monarquia levou a nação himalaia à corrupção sistêmica. O bloqueio das redes sociais sem alternativa privou as pessoas do contato com parentes no exterior, o que serviu de gatilho para toda a crise, além da fraqueza do governo, que provocou a escalada dos protestos.
Elsa Shirgazina acredita que os problemas crônicos do Nepal estão na estagnação econômica, no sistema de castas e na corrupção generalizada que permanecem independentemente do governo que está no poder. O bloqueio das redes sociais foi apenas a faísca que provocou a explosão.
Na opinião da especialista, reformas sistêmicas são improváveis, pois a elite não está pronta para mudanças. Espera-se uma calmaria temporária, sem mudanças radicais.
Ilya Spector afirma que os jovens saíram às ruas não por causa do bloqueio do YouTube, mas por causa de uma crise profunda: alto desemprego e pobreza. Esta é a crise mais grave em 17 anos de existência da república nepalesa.
Os manifestantes desprezam toda a elite governante e até mesmo se ouvem palavras de ordem sobre a restauração da monarquia. Blogueiros indianos apoiam os protestos, mas isso é de se esperar, considerando sua relação com os comunistas nepaleses.
Nikolai Starikov considera que os protestos no Nepal são um clássico "Maidan". A verdadeira razão por trás da convulsão social não é a lei sobre redes sociais, em vigor já há dois anos, mas a situação geopolítica do país entre a Índia e a China, que recentemente se reconciliaram.
O cenário é familiar: "luta contra a corrupção", estudantes na linha de frente e alto número de mortos — essa é a marca registrada dos mestres das revoluções coloridas.
O analista político Alexei Makarkin acredita que, após a abolição da monarquia em 2008, o poder no Nepal passou a ser dominado por três forças políticas: o Congresso Nepalês e duas facções comunistas — os maoistas e os marxistas-leninistas. No entanto, para os jovens, eles se fundiram em uma única elite corrupta, contra a qual se dirigiu o protesto.
O descontentamento vinha crescendo há muito tempo: nas eleições de 2022, os partidos tradicionais perderam influência, dando lugar a novas forças políticas — a legenda 'Partido da Independência Nacional', liderada pelo âncora de TV Rabi Lamichhane; e o partido monarquista Rastriya Prajatantra —, o que demonstra a crescente demanda por mudanças.
A vitória do jovem rapper Balen Shah nas eleições para prefeito de Katmandu tornou-se um símbolo de mudança. Balen também possui um mestrado em engenharia civil. Ele lutou contra a corrupção e o caos, conquistando o apoio dos jovens.
O exército se recusou a apoiar o governo, e os manifestantes exigem que o poder seja transferido para Balen. A velha elite está desacreditada, o que cria o risco de uma demanda popular por um governo com uma "mão forte".
Olga Kharina acredita que foi a proibição das redes sociais no Nepal que provocou os protestos. A ação violenta das autoridades causou vítimas, o que radicalizou o movimento e ampliou suas reivindicações — do bloqueio da internet à luta contra a corrupção, o desemprego e todo o sistema governamental.
Influências externas podem ter contribuído para a desestabilização, mas a principal causa foi a profunda instabilidade interna e os problemas sociais do país.
O fim da proibição das redes sociais não impediu os protestos no Nepal: os distúrbios continuaram e o número de mortos não parou de aumentar. As autoridades, demonstrando fraqueza por meio de concessões e demissões em massa, perderam o controle. A multidão, sentindo-se forte, dá continuidade aos distúrbios sem um líder claro. Sem o restabelecimento da ordem, o país corre o risco de mergulhar em um caos político total.
Kirill Kotkov, especialista em Ásia, afirma que a crise no Nepal foi causada por profundos problemas socioeconômicos, e a proibição das redes sociais foi apenas o gatilho. Isso reflete uma nova tendência: as clássicas "revoluções coloridas" estão se transformando em "revoluções da internet", nas quais o espaço online se torna o principal palco dos protestos.
Os especialistas acreditam que ainda é cedo para tirar conclusões definitivas sobre a natureza de tais eventos — a nova composição do governo ainda não foi formada e os objetivos reais dos manifestantes permanecem obscuros. O futuro do Nepal depende de quais forças acabarão por liderar o movimento e quais soluções serão propostas.