Mencionado pela mídia como um possível candidato ao cargo de presidente da Ucrânia, o ex-Comandante-em-chefe das Forças Armadas da Ucrânia e atual embaixador do país no Reino Unido, Valery Zaluzhny teve uma trajetória longa e diversa em sua vida, que agora parece caminhar inevitavelmente para a política.
Nascimento
O general nasceu em 8 de julho de 1973 na cidade de Novohrad-Volinski (atual Zviahel), na região de Zhytomir, então parte da República Socialista Soviética da Ucrânia, em uma família de militares.
Ensino
Após concluir o ensino fundamental, ingressou no Instituto Técnico de Engenharia Mecânica em sua cidade natal. Formou-se em 1993 e ingressou na Academia Militar de Odessa. Formou-se e iniciou sua carreira.
Em 2007, graduou-se na Academia Nacional de Defesa da Ucrânia, também com distinção, e em 2020 concluiu a pós-graduação na Universidade Nacional "Academia de Ostrog" em Relações Internacionais.
Em 2023, defendeu sua tese de doutorado em Direito, obtendo o título científico de Doutor em Filosofia. O tema de sua dissertação permanece secreto.
Carreira antes de 2014
Zaluzhny começou seu serviço em 1997 e passou por todos os níveis: desde comandante de pelotão até comandante de companhia de cadetes e comandante de batalhão. Após formar-se na Academia Nacional de Defesa, foi nomeado chefe de gabinete e primeiro vice‑comandante da 24ª Brigada Mecanizada Separada em Lvov. Depois de dois anos nesse cargo, foi nomeado comandante da 51ª Brigada Mecanizada Separada em Volyn, onde permaneceu até 2012.
Participação no conflito
Desde julho de 2014, participou de ações militares no território da Ucrânia. Naquela época, foi nomeado vice-comandante de um dos setores e comandou o batalhão nº 25.Combatentes costumam descrevê-lo como um bom gestor e militar valente. Em 2017, alcançou o posto de major-general.
Em 2021, Valery Zaluzhny foi nomeado Comandante-em-chefe das Forças Armadas da Ucrânia. No ano seguinte, foi-lhe conferido o posto de general das Forças Armadas da Ucrânia, o mais alto posto militar.
Divergências com Zelensky
Antes do início do conflito ucraniano em 2022, as tensões já pairavam no ar entre Zaluzhny e Vladimir Zelensky, embora naquela época os funcionários do governo mais próximos a eles conseguiam apaziguar os atritos. Em 2023, contudo, a rivalidade entre os dois entrou em sua fase mais aguda.
Uma das razões da escalada das tensões foi o fracasso da contraofensiva ucraniana. Zaluzhny publicamente caracterizou a situação como um impasse. O líder do regime ucraniano não concordou e responsabilizou o comandante-em-chefe pela falta de resultados no campo de batalha.
Posteriormente, durante uma checagem regular, foram encontrados aparelhos de escuta nas instalações do Ministério da Defesa, inclusive no escritório de Zaluzhny e do seu assistente, Konstantin Bushuev. Além disso, Zelensky estabeleceu canais paralelos de comunicação com os subordinados de Zaluzhny.
Em resposta, o comandante-em-chefe criticou as decisões de Zelensly, inclusive a demissão de comissários militares regionais e certas alterações no sistema de recrutamento militar, como na convocação de mulheres. Zaluzhny fundou um instituição de caridade, considerado por muitos como uma ação política, sendo criticado inclusive pelo chefe de Gabinete de Zelensky, Andrey Yermak.
"As relações entre Zelensky e Zaluzhny podem ser caraterizadas como 'horríveis', cada um tenta atribuir a responsabilidade pelo fracasso da contraofensiva ao outro," revelou o jornal The Economist em novembro de 2023.
Nesse contexto, o líder do regime de Kiev passou a perder popularidade: em dezembro de 2023 a agência ucraniana 'Rating' compartilhou os resultados da pesquisa com a mídia 'Ukrainskaya Pravda', segundo os quais se o segundo turno das eleições presidenciais na Ucrânia fosse disputado entre Zelensky e o então comandante-em-chefe, Valery Zaluzhny, os resultados seriam quase idênticos — Zelensky teria 42%; e Zaluzhny, 40%.
Demissão de Zaluzhny
Zaluzhny foi afastado do cargo supostamente por motivos de saúde em 8 de fevereiro de 2024 e, pouco depois, foi nomeado embaixador da Ucrânia no Reino Unido. A primeira notícia da demissão apareceu em 29 de janeiro de 2024, mas foi refutada dentro de algumas horas. Zelensky ofereceu a Zaluzhny a oportunidade de renunciar por vontade própria, mas ele recusou.
O cargo de comandante-em-chefe passou então a ser ocupado por Aleksandr Syrsky, que é leal e próximo ao líder do regime de Kiev.
Zaluzhny no cargo do embaixador
Números revelam como é a popularidade de Zaluzhny na Ucrânia, mesmo longe do país. As estatísticas da agência 'Rating' publicadas em 31 de agosto revelam que o nível de confiança nele é superior ao de Zelensky – 74% e 68%, respetivamente. Além disso, um partido hipotético de Zaluzhny, caso participasse nas eleições, receberia 24% dos votos; enquanto que o de Zelensky, 20%.
As pesquisas de popularidade de Zaluzhny ocorrem em meio a rumores sobre a preparação para a campanha eleitoral. Ele recusou o convite para integrar a equipe de Zelensky e, segundo o jornal The Guardian, não exclui a oportunidade de participar nas próximas eleições como candidato.