Defesas de Bolsonaro e generais contestam delação de Cid e pedem absolvição no 2º dia de julgamento no STF

Primeira Turma da Suprema Corte julga o ex-presidente e mais sete réus acusados de terem participado de uma trama golpista após as eleições de 2022.

O Supremo Tribunal Federal (STF) realizou nesta quarta-feira (3) o segundo dia de julgamento de Jair Bolsonaro e outros sete réus acusados de participação em uma suposta trama golpista. A sessão, restrita ao período da manhã, durou quase quatro horas e foi marcada pela apresentação das defesas do ex-presidente e de três generais, segundo noticiou o portal G1.

Defesa de Jair Bolsonaro

Os advogados Celso Vilardi e Paulo Cunha Bueno argumentaram que não há provas que vinculem Bolsonaro aos ataques de 8 de janeiro, ao suposto plano de assassinato de autoridades ou a atos de ruptura democrática. A defesa também contestou a delação de Mauro Cid, classificando o ex-ajudante de ordens da Presidência no governo Bolsonaro como "não confiável" e afirmando que o militar mudou versões por diversas vezes.

Vilardi declarou que a colaboração premiada de Cid deveria ser anulada e afirmou que Bolsonaro não atentou contra o Estado Democrático de Direito, um dos crimes pelos quais Bolsonaro é acusado pela Procuradoria-Geral da República. O advogado também alegou falta de tempo para analisar os mais de 70 terabytes de provas reunidas no processo. "Nós não tivemos o tempo que a Polícia Federal e o Ministério Público tiveram", disse.

Outro ponto levantado foi a transição de governo, que, segundo os advogados, teria ocorrido sem obstáculos impostos por Bolsonaro. A defesa pediu a absolvição do ex-presidente e classificou como desproporcional uma eventual pena de 30 anos de prisão.

O advogado Paulo Cunha Bueno afirmou que o ex-presidente não participou de atos violentos nem de tentativas de golpe de Estado. "Não praticou qualquer ato de violência ou grave ameaça que visasse um golpe de Estado ou a abolição do Estado Democrático de Direito", declarou à imprensa ao deixar o Supremo Tribunal Federal (STF), citado pelo portal Poder360. Bueno repetiu aos jornalistas que a acusação contra o ex-presidente é "uma narrativa fantasiosa" e não deveria existir.

O advogado também contestou o valor probatório das minutas apresentadas pelo Ministério Público Federal. "As minutas que estão colocadas ali eram relacionadas ao estado de sítio ou estado de defesa. São termos constitucionais e extremamente formais dentro da lei", disse, acrescentando que tais medidas só poderiam ser adotadas com a convocação dos Conselhos da República e de Defesa.

Ele destacou ainda que "não há uma única minuta assinada" que demonstre que Bolsonaro tenha iniciado qualquer protocolo para tais providências ou estivesse prestes a tomar uma decisão unilateral.

Questionado pelos jornalistas sobre o estado de saúde do ex-presidente, Bueno afirmou que Bolsonaro enfrenta "crise de soluços muito fortes" e que a recomendação médica é de que não compareça ao STF durante os próximos dias de julgamento.

Defesa de Braga Netto

José Luís Oliveira Lima, advogado do general Walter Braga Netto, questionou a delação de Mauro Cid e disse que ela "não fica em pé de jeito nenhum". Segundo ele, não há provas que sustentem a acusação contra o ex-ministro da Casa Civil.

O advogado também alegou cerceamento de defesa, diante da grande quantidade de documentos anexados ao processo e do prazo reduzido para análise. Sobre a acusação de entrega de recursos financeiros para o plano golpista, afirmou que Cid não conseguiu detalhar datas nem mesmo as circunstâncias.

Defesa de Augusto Heleno

O advogado Matheus Mayer Milanez, que representa o general Augusto Heleno, ex-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), criticou a postura do relator, ministro Alexandre de Moraes, em relação à investigação de testemunhas e chegou a chamar o magistrado de "inquisidor".

"Ou seja, nós temos uma postura ativa do ministro relator de investigar testemunhas. Por que o Ministério Público que não fez isso? Qual é o papel do juiz julgador? Ou é o juiz inquisidor? O juiz não pode em hipótese alguma se tornar protagonista do processo", afirmou.

Milanez negou que Heleno tenha pressionado militares por um golpe e contestou o uso de sua agenda como prova. O advogado disse ainda que o general já estava afastado do núcleo de decisões de Bolsonaro no fim do governo.

Defesa de Paulo Sérgio Nogueira

Representado pelo advogado Andrew Fernandes, o ex-ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira, foi apontado nas acusações como alguém que teria tentado dissuadir Bolsonaro com iniciativas golpistas. Segundo a defesa, a ausência do general em reuniões citadas na denúncia da PGR comprovaria sua inocência.

Fernandes afirmou que a declaração de Paulo Sérgio, que classificou a fiscalização das urnas como um processo "para inglês ver", foi mal colocada. Nesse sentido, destacou que sua gestão no Ministério da Defesa manteve cooperação com a Justiça Eleitoral.

Acusados e acusações

Jair Bolsonaro é apontado pela PGR como "principal articulador, maior beneficiário e autor" das ações ligadas à suposta tentativa de golpe de Estado e faz parte do chamado núcleo crucial, que reúne:

Todos os réus respondem pelos crimes de organização criminosa armadatentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direitogolpe de Estadodano qualificado contra o patrimônio da União e deterioração do patrimônio tombado. Se condenado, Jair Bolsonaro pode pegar até 43 anos de prisão.

Confira o cronograma das próximas sessões do julgamento (horário de Brasília):

Ordem da votação

Os réus são julgados pela Primeira Turma do STF. Sendo assim, o primeiro a votar é o relator do inquérito, o ministro Alexandre de Moraes. De acordo com matéria da Agência Brasil, em seguida votam, respectivamente, os ministros Flávio Dino, Luiz Fux, Cármen Lúcia e Cristiano Zanin, presidente da Turma.