Pesquisadores contestam alegações de que carne vermelha previne câncer

Um estudo feito por cientistas dos Estados Unidos e do Canadá concluiu que o consumo de proteínas animais não aumenta o risco de mortalidade e pode até proteger contra doenças como o câncer. No entanto, professores da Universidade de Kingston (Reino Unido) têm ressalvas.

Um estudo conduzido por pesquisadores de universidades dos Estados Unidos e do Canadá indicou que o consumo elevado de proteína animal pode estar associado a um menor risco de mortalidade por câncer, levantando a hipótese de que o nutriente exerceria um efeito protetor contra a doença.

Entretanto, em artigo publicado na terça-feira (2) no The Conversation, os professores Ahmed Elbediwy e Nadine Wehida, da Universidade de Kingston (Reino Unido), ressaltam que a pesquisa não analisou especificamente a carne vermelha, frequentemente associada a maiores riscos à saúde, mas o consumo total de proteína animal, categoria que abrange carnes vermelhas, aves, peixes, ovos e laticínios.

Os pesquisadores britânicos chamam a atenção para o fato de que, dentro desse grupo amplo, diferentes fontes proteicas podem ter efeitos distintos. 

O estudo não especificou ainda se as carnes eram processadas ou não, uma distinção considerada fundamental, visto que carnes processadas, como bacon e linguiça, aumentam o risco de câncer em comparação com os cortes frescos e não processados.

A pesquisa também não investigou a relação entre o consumo de proteína animal e tipos específicos de câncer, o que, na prática, impede qualquer conclusão sobre se um eventual efeito protetor se aplicaria de maneira generalizada ou estaria restrito a variedades particulares da doença. 

Outras dúvidas 

Os professores expressam dúvidas de que o estudo não tenha constatado que as proteínas vegetais protegem contra o câncer, o que contradiz pesquisas anteriores que indicam que o consumo desse tipo de proteína está associado a uma menor incidência de desenvolvimento da doença.

Mesmo que as conclusões do estudo se confirmem, Elbediwy e Wehida advertem que elas não devem ser vistas como um aval para o consumo excessivo de carne vermelha. Eles lembram que há um corpo sólido de evidências científicas que associam o alto consumo desse tipo específico de proteína animal a um maior risco de doenças crônicas, como diabetes tipo 2 e problemas cardiovasculares.