A Justiça da Argentina investiga denúncias de corrupção na Agência Nacional de Deficiência (Andis), após o vazamento de áudios atribuídos ao advogado Diego Spagnuolo, ex-diretor da entidade e defensor pessoal do presidente Javier Milei.
Nas gravações, Spagnuolo cita a irmã do presidente, Karina Milei, atual secretária da Presidência, como envolvida em um esquema de cobrança de propina de fornecedores de medicamentos.
As gravações também apontam a participação do subsecretário de Gestão do governo, Eduardo Menem. Segundo os áudios, a distribuidora Suizo Argentina exigia 8% de propina dos fornecedores em troca de contratos com o Estado.
Desse total, 3% iriam para Karina Milei. O esquema, segundo o conteúdo divulgado, movimentaria entre 500 mil e 1 milhão de dólares por mês.
"Eu disse: Javier, você sabe que estão roubando, que a sua irmã está roubando", afirma uma das gravações atribuídas a Spagnuolo.
Em outro trecho, ele declara: "Eu disse que estou denunciando todos os roubos e que lá embaixo tenho gente pedindo dinheiro. Estão roubando, você pode fingir que não vê, mas não jogue esse fardo nas minhas costas. Eu tenho todos os WhatsApps da Karina". Nem Spagnuolo nem o governo negaram a autenticidade dos áudios.
O advogado Gregorio Dalbón, que já atuou na defesa da ex-presidente Cristina Kirchner, apresentou denúncia na Justiça Federal contra Diego Spagnuolo, Karina Milei, Eduardo Menem, Javier Milei e os empresários Eduardo e Emmanuel Kovalivker, donos da distribuidora Suizo Argentina.
O juiz federal Sebastián Casanello ordenou 15 operações de busca e apreensão. Na sexta-feira (22), Spagnuolo foi localizado pela Polícia em um condomínio de luxo no município de Pilar, em Buenos Aires, enquanto tentava fugir. Durante a operação, seu celular foi apreendido para perícia.
No mesmo dia, Emmanuel Kovalivker foi abordado pela Polícia em sua casa, em Nordelta, bairro de alto padrão, dentro de um carro com 266 mil dólares em envelopes.
Seu irmão, Jonathan Kovalivker, também citado, não foi encontrado, mas autoridades identificaram indícios de dinheiro em uma de suas caixas de segurança.
O juiz determinou ainda a proibição de saída do país para Diego Spagnuolo e para os diretores da Suizo Argentina: Emmanuel, Jonathan e Eduardo Kovalivker.
Em outro áudio, Spagnuolo reclama de interferência no setor que comandava: "Colocaram um cara para controlar toda a minha caixa. É um bandido que já estava na gestão de Macri". A Suizo Argentina é a principal fornecedora de medicamentos da Andis. A família Kovalivker mantém relações comerciais com o ex-presidente Mauricio Macri.
Após os vazamentos, Spagnuolo pediu renúncia ao cargo de diretor da Andis. O governo tentou minimizar o episódio e, em seguida, manteve silêncio, apesar da cobrança por esclarecimentos feita por parlamentares da oposição no Congresso.
Amigo e advogado pessoal de Javier Milei, Spagnuolo ingressou no governo em 2023, sem experiência na área de políticas para pessoas com deficiência. Foi candidato a deputado federal em 2021 e é um dos quatro nomes com mais registros de entrada na Casa Rosada, com quase 40 visitas entre janeiro de 2024 e março de 2025.
Durante sua gestão na Andis, cortou orçamento e cancelou milhares de pensões, justificando a medida ao dizer que os beneficiários seriam "deficientes fraudulentos".