Confira a repercussão do posicionamento do Brasil diante do ataque iraniano contra Israel

Manifestação do Governo brasileiro gerou insatisfação de Israel e de entidades israelitas.

Frente ao ataque iraniano contra Israel, o Governo brasileiro, através de um comunicado emitido em tom de "grave preocupação" pelo Ministério das Relações Exteriores no sábado, fez um apelo para que todas as partes envolvidas "exerçam máxima contenção". O Itamaraty também conclamou "a comunidade internacional a mobilizar esforços no sentido de evitar uma escalada".

No mesmo dia, o Corpo da Guarda Revolucionária Islâmica (IRGC) do Irã lançou dezenas de drones e mísseis contra o território israelense, em resposta ao recente ataque de Israel à missão diplomática de Teerã na Síria, que matou 16 pessoas, incluindo dois comandantes iranianos de alto escalão e cinco militares iranianos.

A nota brasileira não condena o ataque promovido por Teerã, que alega o ter realizado em concordância com o Artigo 51 da Carta da ONU, onde está prescrito o direito dos Estados nacionais à legítima defesa. "A condenação precipitada de alguns países ao exercício do direito legítimo do Irã sugere uma inversão de papéis, equiparando a vítima ao criminoso", argumentam as autoridades iranianas.

A ideia de que o país agiu em seu direito de autodefesa também foi transmitida por Eduardo Gradilone, embaixador do Brasil no Irã. Em entrevista concedida à CNN Brasil neste domingo, ele afirmou:

"O Irã lançou um ataque contra Israel muito limitado, só para fins de mostrar que estava exercendo o direito de autodefesa, que não teve maiores consequências em termos de prejuízo. Mas que deixou um ponto no sentido de que tinha que dar uma resposta a Israel".

"Fiquei desapontado"

Daniel Zonshine, embaixador de Israel no Brasil, declarou estar "desapontado" com a reação manifestada pelo Itamaraty. "Eu procurei a palavra condenação na nota e não achei. Não usaram. Não condenaram o ataque. Fiquei desapontado que não tenha uma reação dessa natureza. (...) A nossa expectativa era por algo mais claro contra esse tipo de ataque do lado do Brasil", afirmou o representante em entrevista concedida neste domingo ao Poder360.

Claudio Lottenberg, presidente da Confederação Israelita do Brasil, também realizou críticas neste domingo. A "atual política externa do Brasil optou por se colocar ao lado da teocracia iraniana, desviando novamente de nossa linha diplomática histórica de condenar agressões desse tipo. Lamentável", declarou. 

Interesses diplomáticos

Em uma reflexão concedida ao ser perguntado sobre as declarações do embaixador de Israel, Gradilone destacou "o alto grau de amizade entre os dois países", relembrando ainda do importante papel desempenhado pelo Brasil em 1947, quando a nação, através de seu representante Oswaldo Aranha, presidiu a Conferência da ONU que resultou na concepção do Estado judeu.

"Graças a Deus o Brasil é muito amigo dos israelenses, (...) mas temos também [amizade] com os outros países. Por isso também que nós temos até uma obrigação de ser muito moderados, evitar fazer alguma coisa que nos distancie de ambas as partes", afirmou o representante. "Claro, como israelense, é lógico que ele preferiria que a nossa reação fosse muito mais enfática e agressiva. (...) Mas nós estamos querendo que a a situação se normalize, e qualquer tipo de reação acima do tom só prejudica a diplomacia", argumentou.