Departamento de Justiça dos EUA torna público depoimento da ex-companheira de Jeffrey Epstein

Ghislaine Maxwell, condenada a 20 anos de prisão por ter sido cúmplice no esquema de abuso sexual de menores, negou que Donald Trump tenha qualquer tipo de relação com o caso e questionou laudo que indica "suícidio" do financista.

O Departamento de Justiça dos Estados Unidos publicou, nesta sexta-feira (22), as transcrições do depoimento de Ghislaine Maxwell, sócia e ex-companheira do criminoso sexual Jeffrey Epstein.

A divulgação ocorre em meio a tentativas do governo do presidente Donald Trump de contornar a forte repercussão negativa, inclusive de aliados, por ter recusado anteriormente divulgar os arquivos relacionados ao caso Epstein.

O material consiste em mais de 300 páginas e arquivos de áudio que incluem as conversas ocorridas em julho deste ano entre Maxwell, que está presa, e o vice-procurador-geral Todd Blanche, que alegou "transparência" ao divulgar as informações.

Já no início da conversa, Blanche alertou Maxwell de que ela não obteria nenhum benefício com as novas declarações. "A parte mais importante deste acordo é que não se trata de um acordo de cooperação (...) Não prometo fazer nada", ressalta o texto.

Blanche afirmou, no entanto, que a conversa daria "proteção" à ex-socialite condenada, em 2022, a 20 anos de prisão por facilitar os abusos de menores vítimas de Epstein. Maxwell também foi avisada por ele de que o governo não usaria as declarações contra ela, exceto em alguns pontos excepcionais.

A promotoria afirma que ela recrutou meninas menores de idade para Epstein abusar durante encontros que começaram com massagens e se transformaram em abusos sexuais. No depoimento, voltou a pedir à Suprema Corte dos EUA para que anulasse sua condenação.

Donald Trump e sua relação com Epstein

Em seu depoimento, Maxwell afirmou "nunca" ter visto Donald Trump receber massagens. O atual presidente dos EUA e Epstein eram amigos há mais de uma década.

"Na verdade, nunca vi o presidente receber qualquer tipo de mensagem. Nunca o vi em nenhuma situação inadequada (...) com ninguém. Quando estive com ele, foi um cavalheiro em todos os aspectos", disse.

Maxwell reconheceu que Trump e Epstein foram fotografados juntos por diversas vezes, mas negou qualquer tipo de amizade íntima. Segundo ela, as ocasiões em que os dois se encontravam eram eventos sociais e que a amizade entre os dois era de cordialidade.

"Acho que eram amigáveis, como costuma ser o caso das pessoas em ambientes sociais. Não acho que eram amigos íntimos, muito menos. Nunca vi o presidente em nenhum dos... Não me lembro de tê-lo visto na casa dele, por exemplo", afirmou.

"Não existia nenhuma lista" de clientes

A ex-namorada de Epstein também negou a existência de uma "lista de clientes" ou de um esquema de chantagem no âmbito da rede de tráfico sexual liderada por ele. "Não existe nenhuma lista. Não tenho conhecimento de nenhuma chantagem. Nunca ouvi falar disso. Nunca vi e nunca imaginei", disse ela a Blanche.

Durante o depoimento, Maxwell afirmou que a obsessão de Epstein por sexo começou em 2001, quando conheceu uma mulher cujo nome não foi revelado na transcrição.

"Acho que foi porque em dezembro de 2001 ele conheceu [omitido pelo Departamento de Justiça]. E acho que [omitido pelo Departamento de Justiça] foi responsável por tudo isso", afirmou.

Segundo ela, a mulher teria confessado a ele "ter sido abusada sexualmente quando era criança" e ter sido treinada "em todas as artes do que quer que isso seja — o programa sexual — por um homem chamado Ron Eppinger, que foi seu explorador sexual desde os 14 anos [...] ou 15".

"O presidente Clinton era meu amigo"

Na conversa com Blanche, também surgiu o nome do ex-presidente Bill Clinton, conhecido pela sua proximidade com o criminoso sexual. Perante isto, Maxwell afirmou que "o presidente Clinton era meu amigo, não amigo de Epstein".

Embora tenha admitido que o ex-presidente dos Estados Unidos havia embarcado no avião de Epstein, ela afirmou que ele o fez para participar de um jantar com ela e seu então companheiro, Ted Waitt, que aconteceria em Hong Kong, e não para receber qualquer tipo de "massagem" sexual. Ela também garantiu que "nunca" havia pisado na famosa ilha que o então financista possuía no Caribe.

"Houve apenas uma viagem de avião [...]. Então, eles passaram algum tempo juntos no avião, e não creio que tenha havido qualquer massagem lá. Portanto, essa teria sido a única vez em que acredito que o presidente Clinton poderia ter recebido uma massagem. E ele não a recebeu, porque eu estava lá", relatou.

Morte de Epstein

Maxwell também se mostrou contrária ao laudo oficial sobre a morte de Epstein, que concluiu que ele se suicidou em sua cela em 10 de agosto de 2019 e, como base, utilizou um vídeo do exterior do local em que a cela aparecia vazia no momento da morte.

"Não acredito que ele se tenha suicidado, não", disse ela. Quando questionada se tinha alguma especulação ou opinião sobre quem o matou, ela respondeu que não, mas adiantou que na prisão "alguém pode pagar a um detento para te matar por US$ 25 dólares".

Para saber mais sobre o caso de Jeffrey Epstein, leia nosso artigo.