Em resposta à operação militar dos EUA no sul do Mar do Caribe para supostamente combater o tráfico de drogas, chefes de Estado e figuras políticas importantes da América Latina se manifestaram contra o intervencionismo de Washington.
Entre as reações mais recentes está a da presidente mexicana Claudia Sheinbaum, que hoje condenou tais ações: "Não ao intervencionismo; não se trata apenas de uma convicção, mas sim do que está na Constituição", afirmou.
O chanceler cubano, Bruno Rodríguez, denunciou nas redes sociais que as forças navais e aéreas dos EUA no sul do Caribe "sob falsos pretextos, respondem à agenda corrupta do Secretário de Estado. A América Latina e o Caribe devem ser respeitados como uma zona de paz", instou.
Já o presidente venezuelano, Nicolás Maduro, declarou na segunda-feira (18) que "nenhum império tocará o solo sagrado da Venezuela, nem deve tocar o solo sagrado da América do Sul": "Nós defendemos nossos mares, nossos céus e nossas terras, nós os libertamos, nós os monitoramos e os patrulhamos", acrescentou.
"Risco à paz"
Em comunicado divulgado na terça-feira (19) no Telegram, o Ministério das Relações Exteriores da Venezuela afirmou que "observa com total clareza o desespero do governo dos EUA" em suas "ameaças e difamações" contra o país sul-americano.
A chancelaria abordou também as acusações de Washington sobre a Venezuela por tráfico de drogas, dizendo que tais acusações "revelam a falta de credibilidade [dos EUA] e o fracasso de suas políticas na região".
Para Caracas, as "ameaças não afetam apenas a Venezuela, mas também colocam em risco a paz e a estabilidade de toda a região".
"Ameaça" aos EUA
Na semana passada, durante uma visita ao Paraguai, o Secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio, ao ser questionado sobre as implicações do envio de forças navais americanas ao Caribe para combater cartéis de drogas, afirmou que grupos criminosos que operam em águas internacionais são uma "ameaça" à segurança dos EUA porque, segundo ele, "operam impunemente em águas internacionais" e exportam "veneno" para o território dos EUA.
Paralelamente, Washington enviou navios para o sul do Mar do Caribe, citando a necessidade de coibir o tráfico de drogas. A Reuters revelou que tais operações serão reforçadas com o envio de navios de guerra, aviões espiões e pelo menos um submarino com capacidade de ataque na costa perto da Venezuela, o que exigirá a mobilização de cerca de quatro mil soldados. No entanto, a informação não foi confirmada oficialmente.
O presidente venezuelano mobilizou cerca de 4,5 milhões de milicianos por todo o país para responder às ameaças do governo americano, que o vinculou, sem prova alguma, ao chamado "Cartel de los Soles" e aumentou a recompensa por informações que levem à captura de Maduro de US$ 25 milhões para US$ 50 milhões.
Colômbia e Venezuela em alerta
Entre as ações anunciadas por Caracas e Bogotá para conter o narcotráfico na fronteira compartilhada está o trabalho conjunto das suas forças armadas para combater a violência e grupos armados como o Exército de Libertação Nacional (ELN), que operam na região.
Em 18 de agosto, o presidente colombiano Gustavo Petro afirmou que tanto o ELN quanto a Segunda Marquetalia — uma dissidência das extintas Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (FARC) que violou o acordo de paz — "esperam uma invasão dos EUA" com o objetivo de "se apoderarem de mais riquezas ilícitas dos territórios de ambos os países", como ocorreu na Líbia, Síria e Iraque.
O presidente colombiano acrescentou que setores da extrema direita na Colômbia, Venezuela e EUA estão "pressionando" por "essa aventura violenta, que não só perturbaria Maduro, mas também deixaria uma ferida aberta na América Latina".