Um estudo forense realizado por especialistas do Corpo Médico da Suprema Corte de Justiça da Argentina concluiu que um lote de fentanil contaminado, distribuído e aplicado em diversos centros de saúde do país resultou na morte de centenas de pacientes tratados com o opioide sintético entre dezembro de 2024 e o início de maio de 2025.
De acordo com o relatório citado pelo mídia local Perfil, o lote de fentanil contaminado com as bactérias klebsiella pneumoniae e ralstonia pickettii foi um fator "determinante" que "contribuiu para o desfecho fatal" de quase todos os mais de 100 mortos que receberam a droga como tratamento médico.
O número de vítimas fatais ainda é preliminar e deve continuar aumentando nos próximos dias.
Classificação dos óbitos
A investigação realizada pelo órgão judicial analisa uma amostra de um grupo de pacientes que recebeu tratamentos semelhantes, o que permite projetar o impacto fatal do fentanil contaminado no restante das pessoas tratadas que já faleceram. Os especialistas dividiram os casos investigados em quatro grupos: nexo causal direto, nexo com causa, nexo causal fortuito e casos não classificáveis.
A maioria das mortes teve uma "ligação com a causa", ou seja, o estado de saúde dos pacientes agravou-se após receberem o tratamento com o anestésico contaminado. No entanto, tais mortes poderiam ser classificadas como "causa direta" se fosse possível determinar que os pacientes não iriam morrer devido à doença que sofriam antes da injeção do fentanil.
Enquanto isso, outras mortes foram classificadas como "fortuitas": pacientes que morreriam mesmo sem o tratamento com o medicamento. Os casos de morte não classificáveis correspondem a mortes com documentação incompleta ou registros clínicos que apresentam datas contraditórias.
Crise sanitária
A crise sanitária gerada pelo lote contaminado de fentanil começou em abril do ano passado quando foram registradas as primeiras mortes, provocando uma situação política tensa dentro do governo do presidente Javier Milei, pois o problema afeta pelo menos 45 mil pacientes em 188 hospitais por toda a Argentina.
A Administração Nacional de Medicamentos, Alimentos e Tecnologia Médica (Anmat) também está no centro das atenções, pois é o órgão responsável por garantir a qualidade e segurança dos medicamentos distribuídos no país. Desde que Milei assumiu o governo, vários controles foram eliminados com o argumento de tirar dos cidadãos "o peso" do Estado.
Enquanto isso, o ministro da Saúde da Argentina, Mario Lugones, comentou recentemente sobre o caso e acusou as farmacêuticas produtoras do medicamento de negligência e "má prática", além de atribuir a culpa do escândalo a governos anteriores.