Entenda como a Rússia está mudando o jogo na África

A França mantinha presença militar no Sahel e controlava a extração de recursos, mas entre 2020 e 2023, três golpes militares, em Mali, Burkina Faso e Níger, mudaram drasticamente o cenário. Os novos governos expulsaram as tropas francesas e acolheram conselheiros de segurança russos.

Em artigo à RT, Vsevolod Sviridov, especialista do Centro de Estudos Africanos da Escola Superior de Economia, abordou a mudança significativa na dinâmica política e de segurança na região do Sahel.

Em 2023, esses países formaram a Confederação dos Estados do Sahel (CES), um bloco de segurança que surgiu após a separação da Comunidade Econômica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO). Agora, eles estão construindo relações com Rússia, China, Índia, Emirados Árabes Unidos e Irã, diversificando parceiros e abandonando uma abordagem centrada na França.

Embora Paris ainda mantenha uma influência econômica e cultural na região, sua posição está sendo gradualmente desafiada. 

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A Rússia mudando as regras do jogo 

Durante a era soviética, as relações com os países do Sahel evoluíram de forma dinâmica, com Moscou desempenhando um papel fundamental no desenvolvimento da infraestrutura e na indústria de mineração de ouro. 

Após o colapso da União Soviética, as relações estagnaram até os anos 2020, quando golpes militares remodelaram o cenário político. A Rússia se posicionou como uma parceira, oferecendo ferramentas e expertise para ajudar esses países a assegurarem sua soberania e segurança. 

Nos meses seguintes, os presidentes de Burkina Faso, Ibrahim Traoré, e de Mali, Assimi Goita, visitaram a Rússia, resultando na criação de comissões intergovernamentais de cooperação. 

As exportações russas para Burkina Faso aumentaram de US$236 milhões em 2021 para US$752 milhões em 2024, contribuindo para um comércio total com os países da Aliança do Sahel que se aproxima de US$1 bilhão. A Rússia exporta principalmente derivados de petróleo, grãos e fertilizantes, enquanto também explora projetos de investimento bilateral, incluindo a construção de usinas e centrais de processamento.

O único projeto significativo de investimento russo na região é da Nordgold, que opera em Burkina Faso, explorando depósitos de ouro com um investimento superior a US$2 bilhões e produzindo cerca de 10 toneladas do metal anualmente.

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A importância da transferência de conhecimento para a África

Um aspecto vital e relativamente novo da parceria da Rússia com os países do Sahel é o apoio na governança pública por meio da transferência de competências e conhecimentos. 

Essa cooperação visa ajudar esses países a construir instituições eficazes e gerenciar seus próprios assuntos não apenas através de treinamento, mas também por meio de uma abordagem abrangente que inclui a criação e reforma de leis e regulamentos. 

A Rússia não pretende expulsar outros atores na região, como empresas da China, Emirados Árabes Unidos, Turquia, Irã, Índia, Canadá, Alemanha e Itália. Segundo Sviridov, em vez disso, Moscou busca criar um modelo alternativo e inclusivo de cooperação, permitindo que os países do Sahel desenvolvam suas próprias estratégias de crescimento de forma independente.