"O juiz que se recusa a ceder à vontade de Trump: 'Faremos o que é certo'". Este é o título da entrevista realizada com o Ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, divulgada pelo jornal americano Washington Post na manhã desta segunda-feira (18).
Na oportunidade, Moraes refutou fortemente as críticas de que realiza uma "caça às bruxas" contra Jair Bolsonaro e seus aliados.
O ministro reiterou seu posicionamento de que não existe possibilidade de recuo em meio à pressão e às restrições impostas pelo governo de Donald Trump, que o acusa de restringir a liberdade de expressão e violar os direitos humanos do ex-presidente brasileiro.
Numa metáfora para as ameaças golpistas, a omissão governamental brasileira durante a pandemia do Covid -19 e o histórico de autoritarismo no país, o ministro afirmou que tinha como papel aplicar "uma vacina" contra a "doença" que ameaça a democracia: "para a cultura americana, é mais difícil compreender a fragilidade da democracia, porque lá nunca houve golpe", disse o ministro.
"O Brasil teve anos de ditadura sob Getúlio Vargas, depois mais 20 anos de regime militar e inúmeras tentativas de golpe. Quando se é mais atacado por uma doença, você forma anticorpos mais fortes e busca uma vacina preventiva", complementou.
"Xerife da democracia"
Descrito pelo jornal como um "xerife da democracia", Moraes "agiu imediatamente" em 4 de agosto e determinou que o ex-presidente cumprisse prisão domiciliar quando tomou ciência de que Bolsonaro havia descumprido as ordens do magistrado de não usar redes sociais.
Anteriormente, Moraes já havia determinado a suspensão do funcionamento do X no Brasil por descumprimento de decisões judiciais, o que fez o proprietário da plataforma, o bilionário Elon Musk, chamá-lo de "Darth Vader do Brasil". O magistrado também já ordenou a prisão de políticos em exercício e ex-ocupantes de cargos públicos, além de determinar o afastamento do governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, após os atos golpistas de 8 de janeiro de 2023.
Perguntado acerca da imposição por parte do governo Trump de tarifas de 50% sobre produtos brasileiros, da revogação de seu visto de entrada no país e de sua inclusão no rol de sancionados pela Lei Magnitsky, Moraes diz não se sentir intimidado.
Neste contexto, acerca de possível abuso de poder por sua parte, o ministro também negou esta acusação e citou que mais de 700 de suas decisões foram analisadas após a entrada de recursos, mas que nenhuma delas foi alterada. Além disso, o ministro admitiu, citando os pensamentos de John Jay, Thomas Jefferson e James Madison, ter admiração pela história constitucionalista americana.