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Segundo turno confirmado: saiba mais sobre as eleições presidenciais da Bolívia

Opositores do governo atual, Rodrigo Paz y Jorge 'Tuto' Quiroga, disputarão a presidência do país latino-americano em 19 de outubro.
Segundo turno confirmado: saiba mais sobre as eleições presidenciais da BolíviaAP / Photos/Freddy Barragan, Arnulfo Franco

Os candidatos Rodrigo Paz Pereira e Jorge 'Tuto' Quiroga lideraram a apuração das eleições presidenciais na Bolívia, realizadas no domingo, informou o Tribunal Supremo Eleitoral (TSE) após divulgar os resultados preliminares, nas quais a população votou no binômio presidencial que governará o país até 2030.

Com quase 1,6 milhão de votos, equivalentes a 32% do total, Paz Pereira lidera a disputa de forma surpreendente. Tuto aparece logo atrás, com mais de 1,3 milhão de votos, o que representa 26%, com mais de 90% das urnas apuradas.

Segundo a lei eleitoral da Bolívia, para que o cargo de presidente seja definido no primeiro turno, o candidato precisa obter mais de 50% dos votos ou no mínimo 40% com uma vantagem de ao menos 10 pontos percentuais sobre o segundo colocado. Por isso, tudo indica que haverá segundo turno em 19 de outubro.

Reações sobre o primeiro turno

O empresário milionário Samuel Doria Medina liderava quase todas as pesquisas, inclusive as últimas que foram divulgadas com autorização do TSE. Após a divulgação dos primeiros resultados, reconheceu a derrota e declarou apoio à candidatura de Paz Pereira.

O atual presidente boliviano, Luis Arce, parabenizou a população pela jornada eleitoral deste domingo. "Temos certeza de que no segundo turno, nossa população reafirmará mais uma vez que os bolivianos resolvemos nossos problemas de forma pacífica, demonstrando novamente essa vocação democrática que sempre nos caracterizou. Venceu a democracia!", declarou.

Por sua vez, o ex-presidente Evo Morales, que durante a campanha eleitoral pediu voto nulo, ainda não se pronunciou. "Hoje votamos, mas não escolhemos", escreveu nas redes sociais. "Hoje levantamos a voz com dignidade e firmeza: não poderão calar a vontade de um povo que sonha, resiste e jamais abrirá mão do seu direito de decidir seu destino", acrescentou.

Arce e Morales, antes aliados, romperam relações, e isso se refletiu no partido governista Movimento ao Socialismo (MAS), que fragmentado conseguiu apenas 3,14% com a candidatura do ex-ministro Eduardo del Castillo. Já a Aliança Popular, que lançou o esquerdista Andrónico Rodríguez, obteve 8,11%.

Andrónico, que se distanciou do MAS para esta eleição, também aceitou o resultado. "Seguiremos firmes, defendendo as conquistas sociais, nossos recursos naturais, o movimento indígena e camponês, e os setores populares, que foram e continuarão sendo o coração das transformações na Bolívia", prometeu.

Quem é Rodrigo Paz Pereira?

Paz Pereira é senador e filho do ex-presidente Jaime Paz Zamora. Não aparecia com destaque em nenhuma pesquisa, figurando entre os últimos na intenção de voto. É economista, com mestrado em Gestão Política pela American University, nos EUA.

Nascido na Espanha, Paz Pereira é um político com longa trajetória. Nas eleições gerais de 2002, foi eleito deputado, e em 2015, prefeito de Tarija, capital do departamento de mesmo nome, pelo Movimento da Esquerda Revolucionária (MIR).

Desta vez, é candidato pelo Partido Democrata Cristão (PDC), com propostas como salário universal para mulheres, melhorias na educação e união nacional para resolver os problemas da nação andina.

Em entrevista recente à Rádio Panamericana, falou sobre três pontos centrais de um eventual governo: um plano 50-50 — metade dos recursos para o governo central e a outra metade para as regiões — como parte de um "novo acordo nacional de convivência".

Sua segunda proposta-chave é "capitalismo para todos", por meio de crédito barato, redução de impostos e tarifas, para estimular o comércio, embora descarte um acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI). Quer “fechar a alfândega corrupta” para adquirir melhor tecnologia e impulsionar a indústria boliviana.

Em terceiro lugar, uma “luta frontal para reformar a justiça”, com um combate firme contra a corrupção. Para isso, pretende criar uma comissão nacional “com os melhores homens e mulheres”.

Quem é Tuto Quiroga?

Formado como engenheiro e administrador de empresas em universidades dos Estados Unidos, Jorge Fernando Quiroga Ramírez, mais conhecido como 'Tuto', foi um dos políticos que governou a Bolívia em um de seus períodos mais turbulentos.

Exerceu o cargo de chefe de Estado de forma interina (2001-2002), após Hugo Banzer deixar a Presidência por conta de um diagnóstico de câncer. Quiroga era seu vice-presidente, cargo pelo qual recebeu diversas críticas.

Banzer governou a Bolívia de forma ditatorial entre 1971 e 1978, antes de apostar na democracia nos anos 1990. Quando Quiroga deixou o cargo em 2002, alternou entre a política ativa e trabalhos em fóruns multilaterais e missões internacionais, tornando-se uma das figuras mais visíveis da direita latino-americana.

Quiroga, da "Alianza Libre", tem um plano de governo baseado em "sete pilares": salvar a economia; reativar a produção; propriedade popular; Bolívia digital; democracia, autonomia, justiça e segurança; política social; e reinserção internacional.

Aos 65 anos, propõe uma "mudança radical" que inclui um acordo com o FMI para obter "um valor importante em dólares", entre 2 e 4 bilhões.

No comércio, defende seguir "o exemplo de Chile e Peru", buscando acordos com grandes blocos para fortalecer as exportações. Os principais mercados com os quais pretende firmar parcerias são China e Índia, além dos Estados Unidos e da União Europeia.

Quiroga quer "desmantelar o sistema de escolha dos altos cargos do Órgão Judicial (magistraturas do Tribunal Constitucional, Tribunal Supremo de Justiça, Conselho da Magistratura e Tribunal Agroambiental)", para "garantir transparência e independência no sistema de justiça".

Na política externa, propõe "uma nova inserção internacional", o que representaria uma mudança em relação à atual gestão. "A Bolívia deve voltar ao caminho da democracia, da independência dos poderes, da segurança jurídica, e assim se tornar um país atrativo para investimentos, seguro para o turismo e confiável para empréstimos", afirma seu projeto.

Com incidentes "isolados"

O TSE reconheceu que houve alguns incidentes "isolados", mas, em geral, avaliou a jornada eleitoral como tranquila nas 34.026 mesas instaladas em todo o país.

Anteriormente, o governo havia informado sobre a detonação de um artefato explosivo perto de um centro de votação no município de Entre Ríos, no departamento de Cochabamba.

Nesse mesmo local, o candidato de esquerda Andrónico Rodríguez, da Aliança Popular, votaria. A imprensa local relatou um confronto entre apoiadores e opositores, com o lançamento de pedras, garrafas e cacos de vidro.

Mais de 7,5 milhões de pessoas foram convocadas para participar destas eleições gerais. Além de presidente e vice-presidente, os bolivianos votaram para eleger os 36 integrantes do Senado e os 130 membros da Câmara dos Deputados, completando a Assembleia Legislativa Plurinacional. Também escolheram sete deputados indígenas originários camponeses e nove representantes para organismos parlamentares supranacionais, um por cada departamento.