
'Próxima vez em Moscou' e 'grandes avanços': principais pontos da histórica cúpula entre Putin e Trump

Os presidentes da Rússia e dos EUA, Vladimir Putin e Donald Trump, realizaram nesta sexta-feira uma reunião histórica na base militar Elmendorf-Richardson, no estado do Alasca (EUA). Tanto o presidente russo quanto seu colega americano destacaram que as conversas ocorreram em um clima "construtivo e de respeito mútuo".
Putin enfatizou que "em mais de quatro anos não houve cúpulas entre Rússia e Estados Unidos" e que esse período foi muito difícil para as relações bilaterais, que "atingiram seu ponto mais baixo desde a Guerra Fria". "É evidente que, mais cedo ou mais tarde, seria necessário corrigir essa situação, sair da confrontação e avançar para o diálogo. Nesse sentido, uma reunião presencial entre os chefes de Estado era realmente necessária — naturalmente, com a devida preparação séria e minuciosa. E esse trabalho, no geral, foi feito", afirmou durante uma coletiva de imprensa conjunta.
Por sua vez, Trump declarou que os dois governantes conseguiram "alguns avanços" e "grandes progressos". "Houve muitos pontos em que concordamos — eu diria que a maioria deles. Há um ou dois pontos importantes nos quais ainda não chegamos a um acordo", afirmou. "Isso é importante. Um deles é provavelmente o mais significativo. Temos uma ótima chance de chegar lá. Ainda não conseguimos, mas as chances são altas. Quero agradecer ao presidente Putin e a toda sua equipe", acrescentou.

"Caminho para a paz na Ucrânia"
O tema central da reunião foi a situação em torno da Ucrânia. O presidente russo afirmou que Moscou percebe "a disposição do governo americano e do próprio presidente Trump em facilitar a resolução do conflito ucraniano, seu desejo de entender a fundo a questão e suas origens".
Nesse contexto, observou que os acontecimentos no país vizinho representam "ameaças fundamentais" à segurança nacional da Rússia. "Sempre consideramos — e continuamos considerando — o povo ucraniano como fraterno, por mais estranho que isso soe nas circunstâncias atuais. Compartilhamos as mesmas raízes, e tudo o que está acontecendo é uma tragédia e uma grande dor", destacou, acrescentando que, por isso, Moscou está sinceramente interessada em pôr fim ao conflito.

"No entanto, também estamos convencidos de que, para que uma solução para a Ucrânia seja sustentável e duradoura, todas as causas profundas da crise — já discutidas em diversas ocasiões — precisam ser eliminadas. É necessário considerar todas as preocupações legítimas da Rússia e restabelecer um equilíbrio justo no campo da segurança na Europa e no mundo como um todo", prosseguiu.
Putin afirmou concordar com seu colega americano que "a segurança da Ucrânia deve ser garantida" e que a Rússia está disposta a trabalhar nesse sentido.
"Espero que o entendimento que alcançamos nos permita avançar rumo a esse objetivo e abrir o caminho para a paz na Ucrânia", declarou, expressando a esperança de que o governo de Kiev e os líderes europeus "recebam tudo isso de forma construtiva e não criem obstáculos nem tentem sabotar o progresso em andamento com provocações ou jogos de bastidores".
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"Agora depende de Zelensky"
Enquanto isso, o presidente americano revelou que terá ligações telefônicas com os aliados da OTAN, assim como com o líder do regime de Kiev, Vladimir Zelensky, para "informá-lo sobre a reunião de hoje". "No fim das contas, a decisão é dele", afirmou, acrescentando que a Ucrânia terá que "concordar" com o que foi discutido entre a delegação americana e a parte russa.
Mais tarde, em entrevista à Fox News, declarou que "agora depende" do líder do regime ucraniano chegar a um acordo. "Concordamos [com Putin] em muitos pontos. Muitos pontos foram acordados. [...] Há um ou dois pontos bastante importantes, mas acredito que são superáveis", disse o ocupante da Casa Branca. "Agora cabe realmente ao 'presidente' Zelensky concretizar isso", acrescentou.
"É melhor que ele chegue a um acordo. A Rússia é uma potência muito grande — e eles [os ucranianos] não são", reforçou Trump. "Acredito que estamos perto de um entendimento", completou, observando que, na sua opinião, o presidente russo "quer resolver esse problema".

"Se Trump fosse presidente em 2022, não teria havido conflito ucraniano"
Putin concordou com a afirmação de que, se Trump fosse o presidente dos EUA em 2022, o conflito entre Moscou e Kiev não teria começado. "Lembro que em 2022, durante os últimos contatos com a administração anterior, tentei convencer meu então colega americano de que não era necessário levar a situação a um ponto que, uma vez iniciado, poderia ter consequências graves em forma de ações militares", relatou.
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"Naquela ocasião, eu disse claramente que aquilo seria um grande erro. E hoje ouvimos o presidente Trump dizer: 'Se eu fosse o presidente, não teria havido guerra'. Acredito realmente que teria sido assim", continuou. Putin afirmou que confirma as palavras do colega americano, destacando que, de forma geral, construiu com Trump "uma relação muito boa, baseada na confiança e no profissionalismo". "Tenho todos os motivos para acreditar que, se seguirmos por esse caminho, poderemos — e quanto antes, melhor — alcançar o fim do conflito na Ucrânia", afirmou.
"Virar a página e retomar a cooperação"
O presidente russo ressaltou que é "importante e necessário" que isso aconteça — que Moscou e Washington "virem a página e retomem a cooperação". "É simbólico que, como já mencionei, não muito longe da fronteira entre Rússia e Estados Unidos esteja localizada a chamada linha internacional de mudança de data, onde literalmente se pode passar do ontem para o amanhã. E espero que isso também nos beneficie no campo político", disse.
Putin apontou que, com a chegada da nova administração americana em janeiro passado, o comércio bilateral entre Rússia e EUA começou a crescer. "Embora ainda simbólico, esse aumento já é de 20%", detalhou. Segundo ele, Moscou e Washington têm "muitas áreas interessantes para colaborar", como comércio, energia, setor digital, alta tecnologia e exploração espacial. "A cooperação no Ártico e a retomada dos contatos entre regiões, incluindo entre o nosso Extremo Oriente [russo] e a costa oeste dos EUA, também são relevantes", completou.
Na mesma linha, ele também expressou esperança de que "os acordos assinados hoje se tornem um ponto de referência não apenas para resolver o problema ucraniano, mas também para dar início à restauração de uma relação pragmática e voltada para os negócios entre Rússia e Estados Unidos". Putin ainda lembrou que Moscou e Washington têm um passado de cooperação em momentos decisivos, quando "derrotaram inimigos comuns com um espírito de camaradagem militar e aliança, oferecendo ajuda e apoio mútuos". "Estou certo de que esse legado nos ajudará a reconstruir e estabelecer relações de igualdade e benefício mútuo, já em uma nova etapa — mesmo nas condições mais difíceis", afirmou.
Uma segunda reunião
Ao destacar que "sempre teve uma relação fantástica com o presidente Putin", Trump afirmou que uma segunda reunião poderia acontecer "muito em breve".
Putin, por sua vez, respondeu que o próximo encontro pode acontecer em Moscou. "Next time in Moscow" ("Próxima vez em Moscou"), declarou em inglês. "Oh, isso é interessante. Não sei... Vão me criticar um pouco por isso. Mas vejo que pode acontecer", reagiu o presidente americano ao convite.
TRUMP EM MOSCOU?Vladimir Putin, ao fim da coletiva de imprensa após a Cúpula do Alasca, convidou Donald Trump para uma reunião em Moscou, na Rússia. Veja todas as atualizações em tempo real: https://t.co/97iIfI4Cltpic.twitter.com/Knzi4QCnf9
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Além disso, o presidente dos EUA afirmou que os preparativos já estão em andamento para uma reunião que também incluiria o líder do regime ucraniano. "Agora estão organizando um encontro entre o 'presidente' Zelensky e o presidente Putin”, revelou à Fox News. "E se eles quiserem, estarei presente nessa próxima reunião", declarou, acrescentando que participaria. "Não pedi para estar. Não é que eu queira estar lá, mas quero garantir que a reunião aconteça", explicou.
Encontro histórico
A reunião de mais alto nível foi realizada a portas fechadas, no formato "3 contra 3", e durou quase três horas. No encontro com Trump, Putin esteve acompanhado pelo ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov, e pelo assessor Yuri Ushakov. Já Trump compareceu com o secretário de Estado, Marco Rubio, e o enviado especial Steve Witkoff.
Esse foi o primeiro encontro entre os dois líderes desde 2019, quando se reuniram na cúpula do G-20 em Osaka, no Japão. Também foi a primeira vez que Putin se encontrou com um presidente americano desde o início do conflito russo-ucraniano em fevereiro de 2022.
O presidente russo não visitava os Estados Unidos há quase uma década. A última vez foi em setembro de 2015, quando participou, em Nova York, do debate anual da Assembleia Geral da ONU.


