Mossad no Brasil: infiltração e riscos à soberania nacional

De acordo com as denúncias, com base em ampla documentação, do policial brasileiro Mohamed Jehad, a presença de agentes israelenses vem sendo detectada desde os anos 70; as denúncias vão desde monitoramento de movimentos sociais até cooptação de agentes de segurança brasileiros.

Em entrevista ao jornalista Breno Altman no programa 20 Minutos, do Opera Mundi, na quinta-feira (7), o policial civil e especialista em inteligência Mohamad Jehad relatou a atuação do serviço secreto israelense no Brasil.

As informações, baseadas em documentos e fontes primárias, indicam um padrão de operações que vai dos anos 1970 aos dias atuais.

Espionagem industrial e assassinatos seletivos

Segundo Jehad, os primeiros registros de atividade do Mossad no país remontam à década de 1970, com o monitoramento de exportações de blindados para países árabes. "Documentos do SNI mostram que agentes israelenses entraram no país com passaportes diplomáticos de nações nórdicas", afirmou.

Um dos episódios mais graves ocorreu em 1981, com o assassinato do tenente-coronel José Alberto Albano do Amarante, responsável pelo Programa Nuclear Brasileiro. "Ele foi envenenado por um agente do Mossad que fugiu para a Argentina", disse Jehad. O crime estaria relacionado a acordos nucleares entre Brasil e Iraque.

Cooptação de agentes e uso de tecnologia

A partir dos anos 1990, o Mossad teria adotado nova estratégia: o recrutamento de policiais brasileiros por meio de cursos em Israel. "Eles voltavam como agentes de acesso passivo, coletando informações sob demanda", explicou Jehad. Rio de Janeiro e São Paulo estão entre os principais alvos, com a Polícia Militar paulista incluída no esquema.

O especialista apontou ainda o uso de softwares israelenses, como Cellebrite e Pegasus, por instituições brasileiras.

"Quando um celular apreendido é enviado para análise em Israel, nossos dados viram moeda de troca", alertou. Durante o governo Bolsonaro, essa cooperação teria aumentado, com a criação de agentes de acesso ativo – servidores que atuam conscientemente para Israel.

Operações clandestinas e false flags

Jehad citou o assassinato do empresário libanês Michel Nassar, em 2003, em São Paulo, como exemplo de ação clandestina. "Nassar seria testemunha em casos de crimes de guerra, mas foi executado em São Paulo antes de viajar ao Líbano". O crime, inicialmente atribuído ao Hezbollah, teria sido obra do Mossad.

Outro ponto levantado foi a infiltração em manifestações pró-Palestina. "Empresas de segurança fundadas por ex-militares israelenses fotografam ativistas e repassam dados para órgãos de inteligência", disse.

Urgência de ação

Para Jehad, a infiltração é "gigantesca" e requer medidas imediatas, como investigação parlamentar sobre contratos com empresas israelenses de tecnologia, auditoria independente nos softwares usados pelas polícias e controle rígido sobre programas de intercâmbio internacional.

"O Brasil precisa acordar para essa realidade", concluiu. "Não são teorias, mas fatos documentados que comprometem nossa soberania."