Israel ameaça romper cooperação militar se Reino Unido reconhecer Estado palestino

Fontes diplomáticas alertaram para risco de prejuízos econômicos e estratégicos para ambos os países.

Israel ameaça suspender a cooperação em defesa e segurança com o Reino Unido caso o governo do primeiro-ministro Keir Starmer reconheça o Estado palestino, afirmou o jornal The Times na quinta-feira (7), citando fontes diplomáticas em Tel Aviv.

Uma autoridade advertiu que o Reino Unido e outros países que estudam reconhecer a Palestina devem "considerar cuidadosamente" as possíveis consequências dessa decisão.

Outra fonte diplomática alegou: "Londres precisa ser cautelosa porque Bibi [Benjamin Netanyahu] e seus ministros têm cartas na manga. Israel valoriza sua aliança com o Reino Unido, mas decisões recentes colocam pressão, e o Reino Unido tem muito a perder caso o governo israelense decida agir em resposta."

Tensão diplomática

Em 29 de julho, Starmer declarou que apoiaria o reconhecimento do Estado palestino na Assembleia Geral da ONU se o governo Netanyahu não decretasse cessar-fogo em Gaza.

O líder britânico também defendeu o compromisso de Tel Aviv com "uma paz sustentável a longo prazo, retomando o processo de solução de dois Estados", garantindo ajuda humanitária e afirmando que "não haverá anexações na Cisjordânia".

Netanyahu reagiu com ataques duros, acusando o Reino Unido de adotar uma postura de "conciliação" com "terroristas jihadistas" e acusando Starmer de "recompensar" o Hamas e ajudar a pavimentar a criação de um "estado jihadista".

Posição oficial das embaixadas

A embaixada de Israel em Londres classificou o reconhecimento da Palestina como Estado como uma "recompensa ao Hamas", mas evitou tratar de aspectos concretos da cooperação em inteligência, prometendo mais informações apenas em setembro.

"Essa medida contraproducente certamente não contribuirá para aprofundar as relações mutuamente benéficas entre Israel e aqueles que promovem essa agenda de má-fé", disse um representante da embaixada.

O governo britânico manteve cautela e não comentou "especulações anônimas sobre assuntos de inteligência".

Impactos econômicos e de segurança

Especialistas ouvidos pelo The Times avaliam que um rompimento da cooperação traria prejuízos consideráveis para ambos os países.

A inteligência israelense fornece informações a agências britânicas sobre alegadas ameaças atribuídas ao Irã. Londres, por sua vez, já recorreu a drones israelenses em operações de vigilância no Afeganistão e no Iraque e contou com apoio de Israel no resgate de soldados nessas regiões.

Ademais, os israelenses exportam armas, softwares e componentes para empresas britânicas. O comércio bilateral movimenta cerca de US$ 8 bilhões e emprega cerca de 38 mil pessoas.

Além das perdas econômicas, a suspensão da cooperação impediria sobrevoos britânicos em Gaza e reduziria o acesso das Forças de Defesa de Israel a ativos britânicos no Oriente Médio e a peças para aviões F-35.