Diante do aumento das tensões comerciais entre os Estados Unidos e a China, Pequim tem restringido o fornecimento de minerais essenciais às empresas de defesa ocidentais, informou o Wall Street Journal no domingo (3), com base em declarações de especialistas do setor.
Desde que ampliou os controles de exportação no início deste ano, a China passou a exigir que empresas estrangeiras apresentem documentação detalhada sobre o uso dos minerais de terras raras e dos ímãs adquiridos.
Segundo importadores ocidentais ouvidos pelo jornal, os órgãos reguladores chineses exigem informações confidenciais, como imagens de produtos e até fotos de linhas de produção, para assegurar que os materiais não sejam destinados a fins militares.
Representantes do setor afirmam que o preço de certos materiais estratégicos subiu mais de cinco vezes após as restrições. A China fornece cerca de 90% dos terras raras utilizadas globalmente e lidera a produção de outros minerais considerados cruciais.
Dependência dos EUA da China
A escassez desses minerais evidenciou a dependência das Forças Armadas dos EUA da China em partes-chave de sua cadeia de suprimentos, o que, segundo analistas, fortalece a posição de Pequim em meio à deterioração das relações entre os dois países.
Mais de 80 mil componentes usados em armamentos do Departamento de Defesa norte-americano dependem de minerais atualmente sob restrições chinesas, de acordo com dados da Govini, empresa de software especializada em defesa.
Isso causa impactos áreas como microeletrônica, motores de drones, óculos de visão noturna, sistemas de mira e satélites.
Fabricantes de drones estão entre os mais vulneráveis, por serem, em geral, empresas emergentes com receitas limitadas e cadeias de suprimentos pouco estruturadas, que não mantêm estoques amplos de ímãs e metais raros, segundo fontes do setor.
Busca de fontes alternativas
Apesar de esforços recentes para diversificar fornecedores, executivos afirmam que alguns elementos são tão específicos que não é viável produzi-los em escala comercial no Ocidente.
Grandes empresas de defesa, que antes terceirizavam a compra desses insumos, agora tentam adquirir diretamente os minerais críticos. "As empresas estão entrando em pânico porque perceberam que não conseguirão obter os ímãs, independentemente do que façam, a menos que se envolvam diretamente", afirmou Nicholas Myers, presidente da Phoenix Tailings, startup de Massachusetts que produz terras raras.
Em resposta à crise, o Departamento de Defesa dos EUA criou, no ano passado, o Fórum de Minerais Críticos. O objetivo é fomentar projetos voltados à cadeia de suprimentos de minerais estratégicos nos Estados Unidos e em países aliados, além de facilitar o acesso a financiamento para mineradoras.
Também foram concedidos subsídios para ampliar a produção de materiais especializados, como os US$ 14 milhões destinados em 2024 a uma empresa canadense para fabricar substratos de germânio usados em satélites militares. Em julho, o governo norte-americano concordou em pagar US$ 400 milhões por 15% da MP Materials.