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Empresas que "ressuscitam" mortos com IA provocam debates na China

Confira como diferentes segmentos da sociedade chinesa reagiram aos "clones digitais" gerados por empresas de inteligência artificial.
Empresas que "ressuscitam" mortos com IA provocam debates na ChinaGettyimages.ru / Jinli Guo

Uma série de empresas que oferecem "réplicas digitais" de entes falecidos tornaram-se populares na China nos dias em que o país celebra o Festival de Qingming - uma época do ano na qual o povo realiza homenagem aos que já se foram.

Um homem de 29 anos, que conversou com a agência chinesa Xinhua em condição de anonimato, afirmou ter contratado o serviço de uma das companhias tecnológicas. Após disponibilizar "fotos, gravações de voz e planos de fundo personalizados", ele pôde se "reencontrar" com seu avô - com quem passou a conversar todos os dias depois do trabalho:

"Conto a ele meus problemas de trabalho e ele compartilha comigo suas experiências como soldado. Embora essas conversas sejam baseadas nas informações que forneci, ainda fico agradavelmente surpreso porque ele fala comigo da mesma forma que falava quando eu era criança. É um grande conforto para mim".

Zhang Yuqiang, co-fundador de uma empresa de IA sediada na cidade de Nanning, afirmou que sua organização passou por aumento de demanda significativa na época do festival. Ele explica que são disponibilizados dois tipos de serviço: Um deles clona uma voz e imagem para criar um vídeo mais simples, transmitindo palavras de bençãos. O outro gera um clone digital capaz de se envolver em conversas:

"A criação de um parente digital requer gravações de áudio, fotos e informações sobre as experiências de vida do indivíduo falecido. Quanto mais dados forem fornecidos, mais próxima a réplica digital será da pessoa real"

Apesar do entusiasmo e da alta demanda manifestada por alguns, outros adotaram uma postura bastante crítica diante da novidade. "Falar com parentes digitais só vai abrir minhas feridas ao me lembrar que eles já faleceram", argumentou um estudante universitário de 20 anos da província de Guangdong que perdeu o avô recentemente.

Advogando por uma posição contrária, Liang Jia, psiquiatra e membra da Associação Médica Chinesa, disse que conversar com as réplicas digitais ajuda as pessoas a manter uma conexão emocional com os mortos e permite que aqueles que perderam seus entes queridos de maneira inesperada concluam o processo de luto .