
EXCLUSIVO: Brasileiro aliciado pelo regime ucraniano passou fome e pediu ajuda à família antes de morrer

Gustavo Viana Lemos, de 31 anos, decidiu se alistar como voluntário nas Forças Armadas da Ucrânia após ver anúncios nas redes sociais. Morador de Laguna, uma cidade do litoral sul de Santa Catarina com menos de 50 mil habitantes, ele vivia com os pais e vários familiares em casas vizinhas.
Segundo a parente Maria (nome fictício), que solicitou à RT discrição para não ser identificada, apesar dos conselhos para que desistisse da ideia, Gustavo insistiu na decisão: "Mesmo contra a nossa vontade, ele foi, era sonho dele e a gente teve que aceitar".
Ele tirou o passaporte em 2023 e entrou na Ucrânia em fevereiro de 2025, sua primeira experiência fora do país. De acordo com a família, Gustavo morreu em meados de julho junto com o também brasileiro Gabriel Pereira, de 21 anos, e um soldado colombiano, durante uma missão na terceira brigada de assalto.
Condições precárias no acampamento
Segundo denúncias da prima, Gustavo Viana Lemos vivia em situações críticas junto com outros soldados. A rotina incluía comprar e cozinhar a própria comida, conviver com a ausência de água potável, e enfrentar alojamentos improvisados com cercas de madeira e espaços subterrâneos para dormir.
"Eles que tinham que comprar comida, gás, eles tinham que comprar tudo... eu acho que daí faltava dinheiro e aí eles tinham que pedir [dinheiro], aí eles pediam para os outros soldados lá, pediam para os familiares", contou.
A partir de vídeos gravados por Gustavo e enviados à família, é possível ver a precariedade dos alojamentos.
O ambiente é cercado por terra e vegetação densa, sem indícios de infraestrutura militar adequada.

"Quem comentou isso comigo foi um paramédico que estava na mesma missão que ele, que daí eles já estavam tomando café com urina e açúcar. Porque não tinha mais comida, os drones demoravam pra levar alimento."
Gustavo e Gabriel Pereira estavam alojados no mesmo grupo e atuavam juntos em regiões de combate. Segundo Maria, o paramédico disse que os dois eram posicionados em locais "suicidas mesmo, que é pra atrasar os russos, pra ser a parede deles". Mariana denunciou: "Eles botam os brasileiros em um lugar mais perigoso, e depois que falece, demora para avisar os familiares".
Família financiava necessidades básicas
Os soldados tinham de arcar com itens essenciais, como gás de cozinha, alimentos e equipamentos de proteção. Sem suprimentos regulares, Gustavo pedia apoio financeiro mensal da família, com valores que variavam entre R$ 200 e R$ 500. Segundo a familiar, o salário pago pelo Exército ucraniano não era suficiente, e ele precisava dessa ajuda praticamente todos os meses.

Apesar das dificuldades, os pais e demais familiares de Gustavo conseguiram contato com ele. "Todo dia ele falava com a gente no grupo da família, falava com a mãe dele direto, por ligação, chamada de vídeo, mensagem. E dia 29 de junho, ele falou que ia ter uma missão, que ia ficar sem contato. Mas quando voltasse, ia poder falar com a gente de novo. Mas aí não teve esse retorno".
Contrato não cobria necessidades do soldado
O contrato assinado com o Ministério da Defesa da Ucrânia previa três anos de serviço militar. Embora o documento prometesse alojamento, assistência médica e alimentação, esses pontos não foram garantidos na prática.


"Quando o Gustavo falou que queria ir, ele disse 'porque eu vou receber bem, não sei o quê, vou ajudar meus pais'. No fim, quem estava ajudando ele eram os pais dele", disse Maria. Gustavo deixou o Brasil em 21 de fevereiro de 2025 e integrou a terceira brigada de assalto das Forças Armadas da Ucrânia.
A família afirma que não recebeu qualquer notificação oficial do regime de Kiev, nem orientações sobre o traslado de pertences ou restos mortais. "A gente manda mensagem e eles demoram a responder. Aí agora responderam dizendo que não sabem de nada, que tem que ter notificação oficial das Forças Armadas, mas...", relatou.
Silêncio oficial
Mais de um mês após o desaparecimento, a família ainda busca respostas formais das autoridades ucranianas sobre o paradeiro e a situação dos restos mortais. Sem documentos, sem suporte consular e sem qualquer previsão de repatriação, os pais de Gustavo seguem em silêncio, aguardando por um desfecho que até agora não chegou.
