Notícias

Qual a relação entre o Governo italiano e os apagões em São Paulo?

Política de austeridade do Governo Meloni parece trazer impactos para a vida dos paulistas que dependem da Enel.
Qual a relação entre o Governo italiano e os apagões em São Paulo?Legion-media.ru / Massimo Insabato / Mondadori Portf / Redes sociais

Desde 2019 - primeiro ano completo com o fornecimento de energia no estado de São Paulo privatizado - até o fim de 2023, a italiana ENEL, encarregada a distribuir energia para dezenas de cidades do estado, realizou um corte de gastos e reduziu em 36% o número de seus funcionários. Os lucros da empresa no período em questão, no entanto, dobraram.

Os indicativos estão em linha com as políticas de Giancarlo Giorgetti, que chefia o ministério da Economia após indicação da primeira-ministra Giorgia Meloni. Ele é defensor ideológico de uma política de austeridade fiscal que tem como objetivo-mor a redução de gastos e a repatriação rápida de lucros do exterior.

"Alcançamos um excelente resultado, melhor do que três anos atrás, não fácil e óbvio; um que recompensa a justiça e não a impropriedade", afirmou Giorgetti a investidores da Enel durante reunião realizada no ano passado, conforme citado pela imprensa local.

A ENEL é uma empresa de economia mista. 23,6% dela pertence diretamente à Itália. Mais especificamente, ao Ministério da Economia e das Finanças do país, segundo dados presentes no site da própria companhia. 

O restante do seu capital está nas mãos de sócios privados, especuladores globais e fundos de cobertura apátridas, como a CORVALIS Capital. Esta última foi fundada por Zach Mecelis: um lituano que objetiva concentrar os gastos da companhia no continente europeu e que, diferentemente do Governo italiano, exerce pressão dentro da Enel através de entrevistas veiculadas pelos maiores meios de comunicação locais.

Precarização do serviço

Apesar do "excelente resultado" para os acionistas, a ENEL tem se tornado alvo recorrente de multas pelas autoridades brasileiras em decorrência do serviço prestado. Nesta terça-feira, a companhia perdeu um recurso e terá de pagar R$165 milhões em virtude da demora para restabelecer a energia em diversas cidades após as fortes chuvas que atingiram o estado em novembro.

Na semana passada, o Procon-SP também aplicou uma outra punição de R$ 12,9 milhões contra a empresa, decorrente de suas infrações ao Código de Defesa do Consumidor. Dentre as violações mais "impactantes" mencionadas pela agência, consta a falta de fornecimento de energia para a Santa Casa de Misericórdia de São Paulo - um dos maiores hospitais filantrópicos da América Latina. 

precarização do serviço oferecido pela Enel não passou desapercebida pelas autoridades brasileiras. Em janeiro, o ministro da Fazenda Fernando Haddad reuniu-se com o CEO Global da empresa, em um encontro que contou com a presença do embaixador da Itália no Brasil, no contexto de um grande atrito entre as lideranças da instituição e o prefeito da capital paulista.