
União Europeia tenta conter China, mas perde autonomia ao seguir EUA, diz especialista

A cúpula entre China e União Europeia, realizada em Pequim no mês passado para marcar os 50 anos das relações diplomáticas, evidenciou a crescente confusão estratégica do bloco europeu e sua incapacidade de aproveitar as oportunidades com o gigante asiático, afirma Ladislav Zemanek, pesquisador do Instituto China-CEE da Academia Chinesa de Ciências Sociais em Budapeste, em artigo exclusivo à RT.

Zemanek destaca que o encontro ocorreu em um momento delicado no cenário internacional.
As relações entre Bruxelas e Pequim, antes vistas como parceria benéfica, agora são marcadas pela geopolítica, divisões internas na UE e a influência persistente dos Estados Unidos. Turbulências globais recentes, como a pandemia e o conflito entre Rússia e Ucrânia, agravaram esse quadro.
"Em vez de renovar uma parceria que foi pilar da integração econômica mundial, os líderes da UE chegaram a Pequim com uma agenda familiar: acusações sobre práticas comerciais, advertências sobre 'ameaças à segurança' e pedidos para que a China 'contene' a Rússia", escreveu o pesquisador.
O artigo aponta a mudança estratégica de 2019, quando a Comissão Europeia, sob Ursula von der Leyen, passou a classificar a China também como "rival sistêmico". Desde então, a política do bloco tem sido guiada por uma visão ideológica, em detrimento do pragmatismo tradicional.
Duras consequências
Zemanek ressalta as consequências rigorosas dessa postura, como restrições a investimentos chineses, altos impostos sobre veículos elétricos do país, sanções a bancos chineses e veto a empresas em licitações públicas acima de 5 milhões de euros. A UE justifica essas medidas como “redução de risco”, alinhando-se à estratégia de contenção dos EUA.
Apesar do tom conciliador adotado por Von der Leyen em Pequim, suas declarações pareceram vazias diante das recentes advertências do G7 sobre um possível "choque chinês" e críticas à "militarização do comércio" por parte da China.
O pesquisador aponta ainda a incoerência da UE, que busca "autonomia estratégica", "resiliência econômica" e "liderança global", mas simultaneamente tenta agradar Washington.
Para Pequim, os desafios da Europa — desaceleração econômica, insegurança energética e vulnerabilidade geopolítica — derivam das divisões internas e da dependência das estratégias americanas, e não da China.
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