O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, causou um abalo inesperado nas relações com a Índia, segundo o ex-secretário de Relações Exteriores indiano e ex-embaixador na Rússia, Kanwal Sibal, em artigo exclusivo para RT.
O analista afirma que, embora muitos países — inclusive a Índia — estivessem preparados para dificuldades diplomáticas após a reeleição de Trump, não era prevista a intensidade dos ataques do republicano contra a ordem global e as normas diplomáticas.
"O último ataque de Trump à Índia e aos países do BRICS explica essa dinâmica subjacente. Os BRICS aspiram a desempenhar um papel político, econômico e financeiro mais importante nos assuntos mundiais", escreve Sibal.
"Essa aspiração baseia-se nas mudanças no poder econômico e no poder político e financeiro concomitante em direção às chamadas potências emergentes ou países de renda média", acrescenta.
"Sanções draconianas"
Sibal destaca que os países do BRICS já adotam suas moedas nacionais em parte do comércio mútuo. Ele cita como exemplo as transações entre Rússia e China, realizadas quase integralmente em rublos e yuanes.
Segundo ele, esse movimento foi acelerado pelas sanções "draconianas" impostas pelo Ocidente à Rússia.
O ex-embaixador afirma que a Índia também promove o uso da rupia em negociações com alguns países, e que grande parte do comércio com a Rússia é atualmente realizada por meio de um mecanismo de compensação rupia-rublo.
"Washington não pode usar sanções secundárias para impedir que países como a Índia utilizem o dólar americano para comerciar com a Rússia e, em seguida, se opor à desdolarização, se esses países forem forçados a usar mecanismos de pagamento alternativos. Se os Estados Unidos continuarem a usar o dólar como arma, inevitavelmente provocarão a 'desdolarização' que tanto preocupa Trump", afirma Kanwal Sibal.
Desdolarização em pauta
Sibal lembra que Trump vem atacando os países do BRICS desde seu retorno à presidência, ameaçando impor tarifas a quem apoiar uma nova moeda comum ou qualquer alternativa ao dólar.
De acordo com ele, na cúpula do BRICS realizada em julho, no Brasil, não houve sinais de recuo por parte dos membros do bloco. Ao contrário, ficou claro que a pressão americana pode acelerar a formação de alianças que desafiem a hegemonia de uma única potência.
O ex-diplomata também critica a postura dos EUA diante de instituições multilaterais, destacando a retirada do país de acordos e organizações como o Acordo de Paris, a Organização Mundial da Saúde, a Comissão de Direitos Humanos da ONU e a Unesco. "Trump parece acreditar que essas organizações não podem funcionar ou sobreviver sem a presença dos EUA e suas contribuições financeiras", afirma.
"Quanto mais o mundo aprender a gerenciar sem os EUA nessas organizações internacionais, mais será erodida a influência internacional dos EUA. Essas decisões dos EUA também acelerarão a dispersão da influência global à medida que outros centros de poder se desenvolverem", conclui Sibal.