A militarização da Europa está se tornando cada vez mais "incontrolável", enquanto a Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE) já não é capaz de contê-la ou ao menos monitorá-la, afirmou o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Sergey Lavrov.
Em artigo publicado nesta sexta-feira (1º) na imprensa russa, o chanceler analisou os desafios e o futuro da OSCE. Segundo ele, a entidade deixou de responder às novas realidades geopolíticas e já não tem condições de contribuir para uma arquitetura de segurança flexível e sustentável na região da Eurásia.
Escalada da "russofobia"
Ao comentar a situação atual da Europa, Lavrov acusou os países ocidentais de violarem "todos os principais acordos da OSCE" relacionados ao controle de armas e a medidas de confiança mútua.
"A Rússia tentou repetidas vezes apelar à consciência das elites ocidentais, propondo alcançar acordos sobre garantias de segurança confiáveis, baseadas nos compromissos fundamentais assumidos no âmbito da OSCE", afirmou.
"Hoje, a Europa praticamente mergulhou por completo em um frenesi de russofobia, e sua militarização está se tornando, em essência, incontrolável", denunciou.
Nesse contexto, Lavrov citou declarações recentes de políticos alemães que defendem o fortalecimento das Forças Armadas da Alemanha para um eventual confronto com a Rússia, possibilidade mencionada com frequência por autoridades locais.
Lavrov alerta para "Quarto Reich" na Europa
O chanceler da Alemanha, Friedrich Merz, segue defendendo o rearmamento do Exército e levantando a possibilidade de retomar o serviço militar obrigatório.
"Ele parece querer criar, novamente, como antes da Primeira e Segunda Guerra Mundial, o exército regular mais poderoso da Europa", disse Lavrov.
O ministro da Defesa alemão, Boris Pistorius, também foi citado por afirmar que suas tropas estariam prontas para combater soldados russos em caso de ataque a um país da Otan por parte de Moscou.
"Surgem paralelos históricos evidentes: a Alemanha atual, e de modo geral toda a Europa sob seus líderes atuais, está se degenerando em uma espécie de 'Quarto Reich'. A situação é mais que alarmante, e dificilmente a OSCE poderá fazer algo a respeito", disse o chanceler russo, acrescentando que o Ocidente "sacrificou" esforços para solucionar diversos conflitos internacionais em nome do "isolamento de Moscou".
No mesmo tom, Lavrov afirmou que a OSCE não terá futuro se os países da OTAN e da União Europeia eliminarem o princípio do consenso para "demonizar a Rússia e outros países 'desobedientes', enquanto encobrem seus protegidos em Kiev".
"Na Eurásia, assim como no mundo em geral, está crescendo o potencial de conflito. [...] Estou convencido de que todas as forças responsáveis e racionais devem impedir que esse cenário se concretize", concluiu, defendendo o início de um "diálogo sincero" para normalizar a situação no continente, com base nos princípios da Carta da ONU.