O presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, classificou nesta quarta-feira como "interferência inaceitável" a decisão dos Estados Unidos de sancionar o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, que conduz a investigação contra o ex-presidente Jair Bolsonaro por seu aparente envolvimento em uma tentativa de golpe de Estado.
"A interferência do governo americano no sistema judicial brasileiro é inaceitável. O governo brasileiro se solidariza com o juiz Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, que é alvo de sanções motivadas pelas ações de políticos brasileiros que traem nosso país e nosso povo em defesa de seus próprios interesses", escreveu Lula em suas redes sociais.
Em sua manifestação, Lula afirmou que "um dos fundamentos da democracia e do respeito aos direitos humanos no Brasil é a independência do Poder Judiciário, e qualquer tentativa de enfraquecê-lo constitui uma ameaça ao próprio regime democrático". "A justiça não é negociável", advertiu.
Na mesma linha, destacou que, no Brasil, "a lei se aplica a todos os cidadãos e a todas as empresas", acrescentando que "qualquer atividade que afete a vida da população e a democracia brasileira está sujeita a regulamentações", incluindo as plataformas digitais.
"A sociedade brasileira rejeita conteúdo de ódio, racismo, pornografia infantil, golpes, fraudes e retórica contra os direitos humanos e a democracia", completou.
"Argumentos políticos"
Lula também criticou o "uso de argumentos políticos para validar as medidas comerciais anunciadas pelo governo dos Estados Unidos contra as exportações brasileiras", conduta que classificou como "injustificável". Ele reiterou ainda que é falso que os EUA tenham déficit comercial com o Brasil.
"O Brasil acumulou um importante déficit comercial de bens e serviços com os EUA nas últimas décadas. A motivação política por trás dessas medidas contra o Brasil prejudica a soberania nacional e a relação histórica entre os dois países", afirmou.
Por fim, Lula afirmou que Brasília "mantém sua disposição de negociar os aspectos comerciais de sua relação com os EUA", mas alertou que "não renunciará aos instrumentos de defesa do país previstos em sua legislação".
"Já começamos a avaliar o impacto dessas medidas e a desenvolver ações para apoiar e proteger os trabalhadores, as empresas e as famílias brasileiras", concluiu.
Nesta quarta-feira (30), o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, assinou uma ordem executiva para impor tarifas de 50% sobre as mercadorias brasileiras. No entanto, 694 produtos ficaram de fora, em uma lista que inclui aeronaves civis, veículos de passageiros, produtos agrícolas e madeireiros, ferro, alumínio e cobre.
Além disso, o Departamento do Tesouro dos EUA incluiu Alexandre de Moraes na lista de "cidadãos especialmente designados". O secretário do Tesouro, Scott Bessent, acusou o magistrado de ter "usado seu cargo para autorizar detenções preventivas arbitrárias e suprimir a liberdade de expressão", bem como de ser "responsável por uma campanha repressiva de censura, detenções arbitrárias que violam os direitos humanos e processos politizados, inclusive contra o ex-presidente Jair Bolsonaro".