A participação de combatentes estrangeiros no conflito na Ucrânia tem sido marcada por promessas não cumpridas, abandono e uso deliberado como "massa de contenção" pelas Forças Armadas do regime de Kiev.
A acusação parte de sobreviventes e familiares de brasileiros mortos no front, como é o caso de Gabriel Pereira, de 21 anos. Seu irmão, Gustavo Alves Ferreira, relata à RT Brasil que Gabriel foi enviado à linha de frente mesmo ferido e com equipamentos improvisados.
"O meu irmão estava nessa primeira linha", conta Gustavo. "Ele não estava operando drone, não estava em funções técnicas. Ele estava com fuzil, segurando posição, com outros dois soldados. [...] Isso não é missão, é suicídio".
De acordo com o relato, a composição das unidades revela uma diferença clara de tratamento. "Mandam os brasileiros, colombianos, angolanos [para a linha de frente]. Os ucranianos não vão", afirma. Segundo Gustavo, essa divisão é percebida pelos combatentes. "Nas palavras deles, [eles são madados] para servir de colete para os ucranianos".
Gabriel sofreu um ferimento no braço durante uma missão e mesmo assim foi forçado a continuar em posição de combate. "Ele estava com o braço quebrado [...] Foi obrigado a permanecer na posição ferido. [...] Tem prova disso, temos um vídeo", diz o irmão.
Outros brasileiros também relataram situações semelhantes. Segundo Gustavo, um combatente que sobreviveu relatou que os estrangeiros não tem qualquer poder de decisão: "Eles não podem não aceitar".
Há também casos de retenção de documentos. "Eles pegaram o passaporte, estão com os documentos retidos", teria dito outro brasileiro ao entrar em contato com as famílias.
Segundo Gustavo, a ideia de que há organização e assistência não corresponde à realidade enfrentada no solo. "Eles pegam, retêm os documentos, a administração do grupo pega as coisas deles, coloca dentro de um carro, joga eles dentro de um carro e fala assim: 'vai pra posição'. E nem conta qual é a posição que eles estão indo", relata.
O padrão, segundo ele, é claro: estrangeiros nas missões de maior risco, sem equipamento adequado, informação tática ou apoio logístico.
A família de Gabriel recebeu a notícia de sua morte através de um companheiro de grupo, e até hoje não houve qualquer reconhecimento formal do regime de Kiev.
"Meu irmão morreu com quatro meses. Não tem vida fácil. [...] Lá, você vira massa morta", conclui Gustavo.
Aliciamento e propostas enganosas
Recentemente, outro brasileiro denunciou tratamento semelhante. Lucas Felype afirmou nas redes sociais ter sido "literalmente enganado" pelo regime de Kiev após aceitar uma proposta para atuar, de forma voluntária, na área de tecnologia militar.
"Eles estão colocando uma arma na minha mão e me levando pra uma zona de guerra sem o meu consentimento. Isso nunca foi o combinado", desabafou.
Segundo o relato, Lucas foi direcionado à cidade de Kharkov, uma das mais afetadas pelos combates, após ser informado de que passaria apenas por um treinamento. "Disseram que é treinamento, mas eu não acredito mais nisso", declarou. Em vídeos compartilhados antes do perfil ser desativado, era possível ouvir disparos e explosões ao fundo.